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Coluna do Dalai Naldão – Revista Pró Moto

ASSIM FALAVA AZARATUSTRA…

Num sagrado CPT “chope pós-trilha”, avistei numa mesinha bem no fundo do boteco, uma figura conhecida que também bebia. Mesmo de longe e com barba, reconheci tratar-se do legendário Azaroldo, treieiro desprovido de sorte, que ocasionalmente tem seu nome comentado aqui nesta coluna.

Estava sumido e segundo a “boca pequena”, tinha passado seis meses no nordeste, meditando numa caverna perto de Quixadá, Ceará. Parece que tinha voltado bem mais esquisito do muito que já era anteriormente… 

 

Azaroldo ficou um tanto quanto “diferente” após seu retiro pelo nordeste

 

O pessoal comentara que voltara parecendo um profeta, pregando segundo ele, sabedoria e um tal “movimento renovador”. 

Levantei, na certeza de um bom papo, peguei duas geladas 600ml, puxei cadeira e emendei:

– Fala Azaroldo, quanto tempo meu camarada…

– Azaratustra… por favor, meu nome agora é Azaratustra!

– Azaratussa … como é que é mesmo?

– Azaratustra, adotei depois que passei a psicografar Friedrich Nietzsche, o grande filósofo alemão!

– Certo Aza… Você sumiu porquê? Estávamos preocupados…

– Me afastei para tentar entender toda a loucura desse mundo! Do alto e de fora, me alimentando apenas de sabedoria, pensei, meditei e tive revelações e encarnações.

– Sério? E eu, apenas voltando de mais um belo e prazeroso dia de trilha…  

– Meu bom, aproveita bem, que isso tudo um dia vai acabar!

– Acabar o que Aza? Como assim? 

– Motocicletas andando em trilhas na natureza. Isso vai acabar mais cedo do que você pensa. Estamos na iminência da fatídica era das restrições: trilha, chope, sexo e tudo mais. Essas coisas, pelo menos do jeito que você conhece, tudo vai acabar…

– Para com isso Aza, o Planeta está meio caidinho mas ainda dá caldo…

– Pois fique sabendo que essas coisas em breve, só virtuais!

O usuário poderá escolher as trilhas que quiser, para andar de moto

 

Fazia calor, uma “loira” já tinha ido e estávamos no meio da segunda garrafa. Impressionado com suas colocações bombásticas e gostando do seu estilo profético, alimentei a conversa.

– Como é que você sabe de tudo isso?

– Simples, fiz uma viagem transmolecular. Me materializei novamente em 2045 e fiz duas sessões sensoriais: uma de sexo e outra na trilha!

– Como foi a de trilha?

– Muito show: primeiro você olha por um sensor de Iris, o qual debita automaticamente em sua conta no Banco e por R$ 50,00 te dá acesso à SMOFF “Saleta moto off road”. Então você senta numa confortável poltrona com gel térmico, coloca um super óculos computadorizado “3D” e abre-se um completo menu. Pode-se escolher roupa e equipamentos de proteção. Depois escolhe-se a moto. Em minha experiência, escolhi uma Vintage: “Bronda CRF265cc” de 2028, movida a ar comprimido…

Óculos virtual off-road do futuro, trilhas a todo momento, com cheiro de pasto

 

– Bronda, o que é isso?

– Uma grande fabrica brasileira, fusão entre a Petrobrás e a Honda, acontecida em 2025, fazendo surgir a Bronda, maior montadora da Via Láctea!

 – Estou pasmo. E as trilhas?

– Você tem bilhões de opções e programas. Pode exatamente determinar o que quer: estradão, praia, travada, florestinha, enfim, qualquer coisa.

– E o que você escolheu?

– Fiquei meia hora nas antigas cavas da década de oitenta, na região perto de São João Del Rey e Tiradentes, em Minas Gerais. Depois gastei mais meia hora fazendo os sessenta e três quilômetros da “Trilha do 63” no caminho do Imperador, Petrópolis/RJ da década de noventa…

– Que máximo! Além da trilha pode-se escolher a época também???  

– Sim, e você sente o cheiro da chuva, o perfume das flores, cansaço muscular nas travadas, irritação nos olhos na poeira, roupa molhada pela chuva, lama entrando pela bota. Enfim tudo, se quiser pode até sentir o “cheirin” quando passa dentro do curral dos bois e também o “fedô” que fica dentro da bota e do capacete…

– E tombo? Dói?

– Basta você programar: luxações, fratura, assadura, câimbras o que quiser. Dói, mas é virtual e ao término da seção, você nem se lembra mais.

– “Garçom mais duas por favor!” E você disse que o sexo vai acabar. Porque pelo amor de Deus?

– Sim, glândulas sudoríferas! Como uma alergia, o contato pele com pele entre humanos será totalmente proibido por conta de bactérias letais super resistentes. O virtual-sex se dará em câmaras hiperbáricas ultra sensoriais, capazes de passar as exatas sensações do ato.

– Que isso Aza, vai dar zebra, nenhum homem vai conseguir colocar seus brinquedinhos pra funcionar sem mulher por perto!

– Bobagem, essa é a parte mais fácil. Todo o ar da câmara estará impregnado de um gás vaso dilatador, chamado “Viagrás”, especialmente desenvolvido pra intumescer instantaneamente corpos cavernosos. E melhor, você pode selecionar – ou mesmo montar por partes – a mulher dos seus sonhos, exatamente como um vídeo-game.

– Como assim?

– Eu por exemplo no menu, escolhi o “body” da Mulher Melancia, com a cara da Angelina Jolie! 

– Caraca Aza? O que achou?

– Normal… Um pouco fria, dei uma canseira nela e quando percebi que seus lábios estavam despencados de cansaço, parei…

– Ei,ei, ei, Azaratustra é nosso rei! Conta mais…

Até mesmo os cachorros poderão sonhar mais, utilizando óculos 3D e a realidade virtual

Será que a esposa de Gustavo estava aprontando alguma para ele?

No futuro, motos, trilhas e o sexo oposto serão escolhidos virtualmente

– Tranquilo, o melhor é que nem tive que sair para jantar, conhecer a sogra e nem levar em casa!

– Mas era só virtual mesmo, sem nenhum contato?

– Virtual total. Mas posso te garantir: mais real que se fosse ao vivo…

– Mas Aza, se ficar só no cineminha a raça humana vai acabar…

– A solução estará pronta também. Cinco por cento do sêmen recolhido será congelado para fecundação de óvulos previamente selecionados…

– Sério?  E os noventa e cinco por cento restantes?

– Matéria prima para produção de pastilhas, exportadas para atletas de alto rendimento e fisiculturistas de várias cidades do Brasil, como Aiuruoca, Pelotas e Campinas, por exemplo…

– Depois desta, restou-me despedir de Azaratrusta e solicitar a ele que, na próxima “viagem pelos anos futuros”, me convidasse, pois fiquei curioso em conhecer a novíssima Bronda 2056! 


CARTA AO DALAI NALDÃO

“Prezado Dalai e editores da Revista Pró Moto. Nunca escrevi anteriormente para a Revista, mas necessito de um conselho urgente. Explico o caso: desconfio que a minha esposa tem um amante, pois ele sempre aparece com roupas novas, relógio de marca e está estranha comigo.

Outro dia peguei o celular dela para ver as horas e ela ficou louca de raiva, gritou que eu não respeitava a privacidade dela, etc… Diz sempre que sai com amigas que eu não conheço e chega tarde em casa, afirmando que vem de táxi mas nunca vi nenhum táxi aqui na porta. Creio que vem de carona , salta na esquina e vem caminhando.

Decidi resolver a questão. Saí com a moto e estacionei na esquina da rua onde teria uma visão total e poderia ver com quem minha esposa pega carona. Agachei atrás da moto e fiquei esperando. O tempo passava e notei um vazamento de óleo na tampa da embreagem e aí a grande dúvida: basta apertar os parafusos da tampa ou é melhor trocar a junta?

Abraço! 

Gustavo César Ramos, Salvador, Bahia

Os policiais do futuro, segundo Azaratrusta

RESPOSTA DO DALAI

Prezadíssimo Gustavo, por favor não se desespere! Seu grande erro foi ficar na tocaia atrás da motinha. Certamente, ao abaixar a cabeça para se esconder, cutucou a tampa com algum artefato pontudo e contundente que detonou a junta.

Conselho do Dalai, use um torno e mantenha suas protuberâncias polidas com, no máximo, 2 centímetros de altura. O resto é bobagem. Como diz o ditado popular: “São apenas coisas que andaram botando na sua cabeça…”

Tenha sempre em mente o seguinte: “Muié, mariola e banana, em qualquer armazém você encontra…

Aliás, você me lembrou um anuncio de um ralyzeiro das antigas, uma semana após sua volta de um famoso Rally. Era algo mais ou menos assim: “Prezados amigos, depois de dez dias competindo no Rally dos Sertões 1998, voltei pra casa e minha mulher tinha fugido. Pior, minha novíssima Honda XR400 também tinha sumido. Em louvor a ‘São Expedito Trilheiro’, gratifico R$ 2.000,00 por qualquer informação sobre a moto…

Para terminar, quero deixar duas frases já conhecidas, mas que aplacarão seu desespero: “Chifre é igual carro flex: um dia ainda você vai ter um!!!” e também “Chifre é igual consórcio, quando você menos espera é contemplado”.

De toda maneira vale uma apertada nos parafusos (teus e dela). Se não der certo, troca tudo de uma vez: junta, discos, molas e muié…



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