O que explica o surgimento de um novo ídolo no esporte.
Parece que foi ontem que eu estive presente à cidade de Esposende, onde prestei sentimentos à família de um ídolo do motociclismo em Portugal. Paulo Gonçalves nos deixou após um grave acidente na edição 2020 do Rally Dakar.
O acidente de Paulo aconteceu ha exatos 32 domingos atrás, no dia 12 de janeiro. Começava ali um sentimento de tristeza e dor que abalou a todos neste país onde, felizmente, o futebol não é uma unanimidade. Aqui há mais pessoas acompanhando outras modalidades, graças à cooperação da imprensa, que sempre divulga, mesmo que em doses menores, o motociclismo.
Paulo Gonçalves foi um guerreiro, como em geral são os portugueses, um dos povos mais raçudos e trabalhadores de toda a Europa. A mesma qualidade é a que traz à tona um novo ídolo ao esporte sobre duas rodas com motor. Miguel Oliveira tem o mesmo olhar de obstinação do saudoso piloto de Esposende.
Com muita garra e raça se vai longe… E Oliveira “já está”!!! Ele acaba de vencer pela primeira vez uma corrida na MotoGP, lado a lado com a melhor geração de pilotos de todos os tempos, na minha modesta opinião. Tá bem, Marc Marquez não estava lá, mas não estava porque caiu e se machucou, portanto, não manteve a consistência necessária para disputar – e eventualmente vencer – esta etapa, realizada na Áustria.
Consistência, no entanto, é outra característica de Miguel Oliveira. Ao longo de grande parte da corrida ele esteve por volta da oitava posição. Na metade final, como tem acontecido, seu rendimento aumenta, enquanto os demais pilotos começam a baixar o ritmo. E como sempre, alguns acabam saindo da prova, por conta de acidentes. Foi o que aconteceu com Viñales, que caiu e viu sua Yamaha seguir “em pé”, até que ela se chocou de forma violenta contra a barreira de proteção, pegando fogo imediatamente, numa cena espetacular.
Oliveira se viu numa confortável terceira colocação, faltando 3 voltas para o final. E foi justamente quando “a concorrência ajudou ao concorrente”, situação que acontece na vida de todos nós, todos os dias. Jack Miller (Pramac Racing Ducati) e Pol Espargaro (Red Bull KTM Factory Racing) disputavam curva a curva quem seria o vencedor. Foram diversas ultrapassagens entre eles e a única certeza que pairava era que um deles seria o vencedor da prova.
No entanto, na última volta e na última curva, Miller e Espargaro assustaram-se entre si, com receio de um choque e provável queda, a poucos metros do final. Ambos saíram levemente da pista e abriram as portas do paraíso para Miguel, que teve ali, premiados, seus anos de dedicação, talento e garra. Foi ali, o homem mais feliz do mundo. Parabéns Miguel Oliveira, nasce um ídolo, faz brilhar a estrela do esporte novamente em Portugal.