Mário Patrão deu uma conferência de imprensa onde falou da forma como correu o Dakar 2020. Na primeira parte da entrevista, o piloto da KTM falou de alguns erros da organização que poderão estar na origem de algumas quedas, inclusive a de Paulo Gonçalves.
“Foi um Dakar um pouco agridoce. Se me perguntassem quando cheguei a Portugal, se eu voltava à Arábia Saudita, eu diria que não, de certeza.”
“Mostrei este meu desagrado ao organizador. Eles falharam muito para connosco e não deveriam falhar. Nós, pilotos, confiamos a 100% nas pessoas que fazem o roadbook. Não sabemos especificamente quem é que o faz mas a verdade é que confiamos.”
“Para se ter uma ideia, imaginem chegar a uma escada a 150 km/h numa moto. Não é correto dizerem-nos que descer a escada a 150 km/h tem o mesmo nível de perigo que vir à mesma velocidade e enfrentar uma escada de frente para nós. Para quem entende de motos, sabe que isto não é assim.”
“Se eu vier a 150 km/h e a escada é a descer, poderá não haver qualquer problema. Mas se eu vier a 120 km/h a subir, vou ter um problema gravíssimo. Para a pessoa que está a marcar o roadbook, ambas as situações são classificadas como “perigo 2”. E isto não pode ser assim.”
“A pessoa que está a fazer o roadbook pode estar a dar o seu melhor. Mas alguém tem de lhe dizer que o perigo não é igual. Pelo menos para uma moto não é igual.”
“Na minha opinião, o que aconteceu no caso do Paulo é que apanhamos um ‘perigo 2’ a descer e afinal não é nada. Depois apanhamos outro ‘perigo 2’ e não é nada novamente. E outro, e outro e outro. E passa a ser ‘normal’ um ‘perigo 2’ não ser nada.”
“E nós, pilotos, “metemos” na cabeça que um ‘perigo 2’ para a pessoa que fez o roadbook é um ‘perigo 1’ para mim. E penso ‘posso passar a fundo’. E depois acontece que um desses perigos está realmente mal marcado e as coisas correm mal. Na minha opinião, sinceramente foi aquilo que aconteceu.”
“O sítio onde o Paulo caiu estava marcado como ‘perigo 2’ e até se via bem. O problema é que havia uma segunda lomba e, essa sim, não se via. E o que fazemos nesse caso. Levantamos a roda da frente para tentar superar esse segundo obstáculo e a roda de trás é que vai absorver essa segunda lomba.”
“Quando isto acontece em areia, não há qualquer problema. Mas quando é pedra ou algo com a dureza de uma raiz, isso tem um efeito desastroso. E foi isso que aconteceu ao Paulo. A moto caiu lá com a traseira e ele é cuspido por cima da moto.”