O motocross começou no Brasil em 1971, com a primeira prova “oficial” em Curitiba, Paraná, e outra em São Paulo pouco tempo depois. Era o início de um esporte que havia dado seus primeiros pulos na Europa pós-Guerra.
Em 2001, a revista Dirt Action publicou – em sua edição de número 72 – uma reportagem falando destes personagens como Nivanor Bernardi, Roberto Boettcher, Moronguinho, e marcando 1971 como o ano do início do motocross brasileiro por causa da corrida em São Paulo. A matéria de capa vinha com a chamada ”30 anos de motocross no Brasil”, e destinava sete páginas para contar esta história.
Em 2011, começamos a escrever o texto desta página, publicado pela primeira vez em abril daquele ano. Preparamos um resgate histórico para comemorar os 40 anos de motocross no Brasil junto com o primeiro ano do BRMX.
Nas linhas a seguir, você confere um resumo do agora cinquentão motocross brasileiro.
70’s
O motocross rolava na Europa desde o fim da década de 40. O Mundial da categoria já acontecia desde 1957. A guerra tinha terminado há um bom tempo e as pessoas viajavam mais tranquilas pelo mundo, trazendo informações das terras gringas. E foi assim que tudo começou.
Influenciados pela onda que crescia no Velho Mundo, motociclistas brasileiros começaram a organizar corridas de MX em 1971. Dois anos mais tarde, em 73, foi criado o Campeonato Brasileiro da modalidade, com vitória do catarinense Nivanor Bernardi.
Depois, apareceram figuras como Walter ”Tucano” Barshi, Paulê Salvalage, Roberto Boettcher e Pedro ”Moronguinho”, que até hoje é o maior campeão brasileiro de motocross de todos os tempos – empatado com Milton ”Chumbinho” Becker – com 14 taças (depois de 2011, com categorias de veteranos, Chumbinho viria a ultrapassar este número).
80’s
Veio a década de 80 e com ela os investimentos. A Malboro – marca de cigarros – entrou patrocinando o Campeonato Brasileiro e a sua concorrente, Hollywood, criou sua própria competição, uma das mais badaladas da época. Além disso, a Yamaha investiu em pilotos e treinamentos. Primeiro, a fábrica trouxe o finlandês quatro vezes campeão mundial, Heikki Mikkola, para ministrar cursos no seu centro de treinamento. Depois, formou uma equipe com os americanos Rodney Smith e Kenny Keylon.
O motocross ganhou visibilidade e novos nomes como Álvaro ”Paraguaio” Cândido Filho, Jorge Negretti, Rogério Nogueira, Eduardo Saçaki, Cássio Garcia e Gilberto ”Nuno” Narezzi começaram a aparecer.
Neste período também rolaram as primeiras provas do Mundial no Brasil. A estreia foi em 1985, em Nova Lima, Minas Gerais. Foi uma prova de 125cc, vencida pelo finlandês Pekka Vehkonen, que pilotava uma moto da marca italiana Cagiva.
90’s
Nos anos 90, as grandes empresas de cigarro já não eram mais patrocinadoras do esporte e o motocross viveu um momento difícil. Foi quando a Honda entrou em parceria com a Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM) e trouxe outro respiro para o campeonato nacional.
Da metade da década em diante, Chumbinho, Rafael Ramos, Massoud Nassar Neto e Paulinho Stedile começaram a gravar o nome na história do esporte. Neste período também aconteceu o Skol Supercross – Campeonato Brasileiro -, o mais organizado e prestigiado campeonato da modalidade no Brasil. Depois dele, houve outras tentativas de realizar um certame nacional de SX, mas nenhum perdurou.
2000’s
Com a chegada do novo milênio vieram novos parceiros, novos pilotos, novas categorias. O mineiro Antônio Jorge Balbi Júnior firmou-se como principal piloto nacional, fazendo temporadas impressionantes nos campeonatos norte-americanos – algo impensável até o final da década de 90 – e ganhou títulos nas duas principais categorias do Campeonato Brasileiro. Ao lado dele, também apareceram Swian Zanoni, João ”Marronzinho” Paulino, Wellington Garcia e Leandro Silva.
Neste período consolidou-se a categoria MX3, contribuindo para que os pilotos “das antigas”, como Chumbinho, Cássio Garcia, Cristiano Lopes, Paulo Stedile, entre outros, continuassem competindo e alimentando a nostalgia dos amantes do esporte.
Já no fim da década, Honda e CBM encerraram a parceria de anos, o que culminou com o surgimento de dois campeonatos nacionais: a Superliga Brasil – organizada pela Romagnolli Promoções e Eventos, com patrocínio da Honda – e o Pro Tork Brasileiro de Motocross – organizado pela CBM, com patrocínio da Pro Tork e da Rinaldi.
Este cenário com duas frentes nos faz pensar sobre o que será do motocross na década que se inicia. Ao passo que temos duas grandes forças no comando de dois campeonatos nacionais, mercado motociclístico aquecido, novos investimentos, novas marcas, ainda carecemos de ajustes básicos, como calendário definido com antecedência, maior número de etapas, melhor premiação para os pilotos e pistas melhor elaboradas.
Nos tempos da internet + domínio gringo
2010’s
O cenário de duas frentes durou pouco tempo. A Superliga persistiu somente até 2013 como campeonato, e fez uma etapa única em 2015. E o Brasileiro de motocross concentrou os esforços de todos.
Tivemos altos e baixos. Um dos pontos altos foi que passamos a ter internet cada vez mais massificada e, portanto, mais divulgação (apesar de que ainda temos muito a crescer).
A transmissão ao vivo se tornou realidade.
O BRMX participou do processo. Promoveu uma transmissão ao vivo em 2012, na etapa de Foz do Iguaçu, Paraná, com lama, suor e lágrimas e apoio da saudosa X Motos. Você pode rever clicando aqui.
Mas naquela época pouco se falava em LIVES, e a iniciativa teve dificuldades financeiras para decolar. Depois, por alguns anos, o campeonato ficou sem transmissão ao vivo, mas contava com programas que eram veiculados na ESPN, produzidos pela CBM.
Em 2018 que a coisa engrenou. A CBM já fazia uma transmissão ao vivo – porém precária – e a Yamaha entrou no ramo produzindo uma transmissão com qualidade superior, elevando a régua. YouTube já havia atingido um patamar de “rotina” na vida dos brasileiros, o Facebook também contava com plataforma de streaming, e a decolagem foi de sucesso. O BRMX estava no processo, auxiliando a Yamaha na produção, e chegamos a ultrapassar 100 mil visualizações na primeira live, em Rancho Queimado, Santa Catarina!
Segundo ponto: as estruturas das equipes cresceram. É notável o tamanho das estruturas dos times no Brasileiro de Motocross. Honda, Yamaha e KTM estacionam carretas que são dormitório, cozinha, garagem, oficina e box. É bonito de se ver.
Terceiro ponto: bLU cRU da Yamaha. A empresa importou dos EUA e Europa o modelo de incentivo a pilotos amadores, privados, que passaram a contar com um apoio financeiro nas etapas do Brasileiro de Motocross, além de outros “agrados” da marca dos diapasões para quem comprasse uma YZ. Isso ajudou a alavancar pilotos, que tiveram mais condições de ir à etapas do campeonato nacional.
E o que mais?
A qualidade das pistas divide opiniões. A década começou com provas em Carlos Barbosa, Canelinha, Siqueira Campos, Aracajú, e terminou passando por pistas pequenas, apertadas, que nivelam a disputa por baixo – salvo 2020, que aconteceu todo em duas pistas boas (Penha e Apiaí). Há quem despreze, há quem considere fundamental uma pista grande, nível AMA, Mundial, para o espetáculo melhorar. Estamos no segundo time.
Os pilotos perderam a premiação. Até 2016 havia dinheiro como prêmio para os melhores colocados na MX1 e MX2. O primeiro da MX1 recebia quase R$ 3 mil. Essa prática se esvaiu. Em 2018, com a criação da categoria Elite MX (outro ponto desta década), os 30 pilotos que alinhavam no gate da categoria recebiam uma ajuda de custo de R$ 500. Mas, nem esta premiação da Elite aconteceu em 2020. Será que volta?
Só isso?
Você sabia que só um brasileiro foi campeão do Brasileiro de Motocross na MX1 entre 2010 e 2020? Apenas Balbi Junior conseguiu esta façanha, vencendo em 2011.
Muito se deve ao domínio de Carlos Campano, que chegou em 2012 e ganhou cinco títulos (2012, 2014, 2015, 2017, 2018), enquanto os outros cinco se dividiram entre o americano Scott Simon (2010), o brasileiro Balbi Junior (2011), o equatoriano Jetro Salazar (2016 e 2019) e o português Paulo Alberto (2020).
Mas além dos campeões da MX1, vimos surgir nomes fortes na MX2. Hector Assunção, tricampeão na 250 inicia a nova década como um dos favoritos na MX1. Fabio Santos, outro tricampeão da MX2, segue o mesmo caminho e deve lutar por vitórias em breve. Gustavo Pessoa, campeão na MX2 em 2017, viveu carreira no Mundial de Motocross e voltou ao Brasil mais experiente em 2020. E Jean Ramos, campeão da MX2 em 2011, subiu forte e esteve perto do título da MX1 em 2015 e 2016.
Tem mais?
Resumidamente, o motocross brasileiro tem pontos muito positivos: o nível técnico dos pilotos da MX1 é alto, as transmissões estão melhorando, as equipes estão cada vez mais estruturadas, há incentivo das principais montadoras (Honda e Yamaha).
Mas há muitos pontos que precisam melhorar, e muito: pistas precisam acompanhar o nível técnico dos pilotos, o espetáculo precisa ser mais atrativo para conquistar novos adeptos, precisamos trazer mais pilotos para o campeonato, encher os gates, área de box precisam ser melhores organizadas, a divulgação ainda carece de incrementos básicos…
Enfim, agora uma nova Era se inicia e a chance de melhorar está alinhando no gate mais uma vez.