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MXGP, Jacky Martens: “Será muito difícil atrair novos patrocinadores”

Em circunstâncias normais, o diretor da JM Honda Racing, Jacky Martens, teria acabado de regressar de Saint-Jean d’Angély para continuar os preparativos para o Grande Prémio de Itália, em Maggiora. No entanto, dado o surto de Covid-19, Martens encontra-se a planear o regresso às corridas.

“Pelo menos estamos a avançar!”, disse o diretor da JM Honda Racing, mantendo uma mentalidade positiva. “Esta foi, na verdade, uma segunda pausa de inverno para nós. Como sabem, foi-nos dada luz verde tardia para preparar a nossa entrada com uma nova marca numa nova equipa. Agora compensamos esse tempo. Os motores são agora completamente de primeira classe, também porque podemos produzir muitas peças e testá-las imediatamente”.

Julien Lieber, piloto da equipa, foi operado ao pulso no início de março, depois de uma lesão que o retirou das pistas ainda no ano passado. No entanto, com esta pausa forçada no calendário, o jovem piloto belga terá mais algum tempo para poder recuperar da lesão.

“A operação foi, na verdade, bastante radical. Nas últimas semanas, o Julien voltou um pouco atrás na sua reabilitação porque já não lhe era permitido ir ao fisioterapeuta. Um infeliz efeito colateral do coronavírus, que já terminou, visto que já pode regressar às sessões de fisioterapia. A flexibilidade da articulação é boa, mas o pulso ainda não está suficientemente estável. Isso vai levar algum tempo. Felizmente, não vamos já regressar à competição. No entanto, não será fácil. Terá de regressar novamente à sua forma física e recuperar as boas sensações com a moto, até porque o seu último Grande Prémio foi em junho do ano passado”, sublinhou Martens.

Como se sabe, a equipa JM Honda Racing é composta por mais dois pilotos: Benoit Paturel e Artem Guryev. Segundo o diretor da equipa, estão ambos prontos para regressar à competição a qualquer momento.

“O Guryev já está completamente em forma. Apesar de não terem podido andar todo este tempo, os pilotos continuaram a treinar a sua condição física. Quanto ao Benoit, recebeu um feedback positivo quando viu os primeiros resultados do seu árduo trabalho nos Grandes Prémios. Ele está super motivado e o trabalho que tem feito com o treinador Joël Roelants é excelente. Para o Artem este período é uma oportunidade para se fortalecer e se concentrar nos pontos em que está a trabalhar mais, sem ter de se distrair com viagens ou corridas. Na verdade, é uma oportunidade única de melhorar numa situação difícil”, admitiu Jacky Martens, explicado ainda de que forma é que a equipa utilizou e está a utilizar esta paragem para fazer melhorias.

“Faltou-nos tempo para dar mais um passo em frente em termos de desempenho. Isso acabou por acontecer agora. Além disso, ainda se aprende mais sobre a própria competição. Em Valkenswaard, o Paturel foi penalizado com cinco lugares após a corrida de qualificação de sábado, porque a sua moto produziu demasiados decibéis nos comandos. Há muito tempo que não nos acontecia algo assim. Em cooperação com a Honda e os sistemas de escape da HGS, encontrámos uma solução. Agora, tudo funciona perfeitamente, o que nos vai permitir recolher informações adicionais do piloto para os testes”.

Segundo Martens, a equipa está num bom caminho, apesar das dificuldades trazidas pelo surto de Covid 19.

“Antes de mais, estou muito contente por termos feito a mudança para o MXGP neste ano, juntamente com muitos bons parceiros. Todos os patrocinadores permanecem muito envolvidos e muito entusiasmados. Por outro lado, temos de admitir que, especialmente agora, será muito difícil atrair novos patrocinadores. Como equipa, estamos a tentar gerar o máximo de valor possível para os nossos parceiros. Continuamos a estar presentes nas redes sociais e destacamos todos os patrocinadores um a um com vídeos personalizados. Até agora, a resposta tem sido excelente e penso que isso faz de nós uma excepção no paddock de hoje em dia. Por conseguinte, também continuamos nessa frente”, explicou Jacky Martens, acrescentando ainda que, apesar de as coisas estarem a correr bem, dentro do possível, existem muitos desafios pela frente.

“Todos terão de demonstrar que são capazes de lidar com esta nova situação de forma responsável. Respeitar a distância social, por exemplo, ao sair para a formação. O piloto que vai para a pista sai com uma pessoa de apoio. Todos terão de dar provas de disciplina para o conseguir. Para o primeiro GP, tanto a organização como as equipas terão de fazer os seus trabalhos de casa. Enquanto coletivo neste desporto, temos de estar muito atentos a isto. Apertar a mão, beijar para saudar alguém, isso está fora de questão a partir de agora e as máscaras vão tornar-se a nova realidade. Nas pitbox terá de existir um número máximo de pessoas. Além disso, há ainda outras questões práticas: um piloto ganha ou sobe ao pódio e é recebido com entusiasmo, a atribuição de troféus…Tudo isso sofrerá alterações”, ressalva o diretor da JM Honda Racing, não esquecendo de referir as questões referentes aos orçamentos das equipas.

“Mesmo as equipas com grandes orçamentos ou proprietários com elevado poder de compra não vão conseguir escapar às consequências da crise do coronavírus. Penso que é muito difícil continuar como se nada estivesse a acontecer. Como qualquer desporto, o MXGP terá de pensar em como pode ser feito em menor escala e com menos orçamento. Durante anos, a estratégia tem sido a dimensão do espetáculo. Mais profissionalismo, mais membros da equipa, uma apresentação mais destacada… É altura de olhar para tudo isto de uma forma crítica”.

“O número de Grandes Prémios e, sobretudo, as corridas fora da Europa são um fator crucial para os custos totais. Como equipa, podemos cobrir o custo de quatro Grandes Prémios europeus com a despesa que teria um GP fora da Europa. Há dez anos atrás, havia duas corridas desse género no calendário. Agora há quatro mais duas corridas fora do espaço Schengen: Rússia e Turquia. Uma regra de um só homem também faria sentido. Esta chamada regra de um só fabricante poderia dar aos fabricantes a oportunidade de mostrarem a fiabilidade das suas motos. Além disso, estou a pensar em reduzir o número de membros da equipa, o que irá baixar os custos salariais. Com dois mecânicos por piloto e um coordenador, eu deveria conseguir trabalhar de forma eficiente, pelo menos, se o calendário assim o permitir. Por exemplo, a logística que envolve os GPs no estrangeiro está a revelar-se um fardo muito pesado para as equipas. Uma equipa bem organizada como a nossa pode fazê-lo, mas para equipas mais pequenas isso é quase inviável”, explicou.

Em relação às dificuldades financeiras que as equipas vão encontrar nos próximos tempos, Jacky Martens não se fica por aqui.

“A situação no motocross é completamente incomparável com o que acontece nos grandes desportos. A promotora do MotoGP, a Dorna, apoia financeiramente as equipas nestes tempos, sem grandes receitas televisivas, o que é simplesmente impossível no MXGP. Isto é compreensível, mas tal como no ciclismo, nós, enquanto equipa, estamos completamente dependentes do patrocínio. É por isso que muitas coisas vão ter de mudar. No entanto, com o próprio motocross temos um produto fantástico. Nos últimos anos temos trabalhado arduamente para levar tudo a um nível muito elevado. Mesmo que sejamos obrigados a dar um (pequeno) passo atrás, tenho plena confiança no futuro”, sublinhou Martens.

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Foto: JM Honda Racing Facebook



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