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O modelo de trabalho que veio para ficar

Autonomia, flexibilidade e possibilidade de ganhar renda extra são fatores que atraem mais profissionais

Diariamente, milhares de entregadores autônomos saem às ruas para transportar até as casas dos brasileiros os mais diferentes tipos de produtos, adquiridos, em sua maioria, pela internet ou via delivery, modalidades que foram amplamente intensificadas com a pandemia. Somente no Estado de São Paulo, o número de profissionais que migraram para este mercado durante este período foi de aproximadamente 85 mil, considerando apenas aqueles que utilizam motos como meio de transporte. Segundo o Sindicato dos Motoboys de São Paulo, antes da crise sanitária, eram 220 mil autônomos no estado e, em março deste ano, este total já havia saltado para 305 mil.

“Havíamos entendido que este movimento, de crescimento do número de entregadores autônomos no país, era uma tendência, mas ganhou um ritmo impressionante à medida que este novo cenário de consumo online foi se expandindo, em especial na pandemia que estamos vivendo”, disse a vice-presidente e diretora de produtos da Mandaê (startup de logística de entregas para e-commerces), Ana Carolina Mantovani, durante webinar especial realizado nesta quinta-feira (15), para discutir o assunto e o impacto da alta da atividade nas operações logísticas nacionais.

O evento é primeiro episódio do Papo em Movimento 2021, promovido pela Intermodal – plataforma de negócios voltada aos segmentos logístico, de transporte de cargas e comércio exterior – que reuniu profissionais do setor para compartilhar suas impressões sobre a participação cada vez mais estratégica dos entregadores autônomos no atual cenário de hiper crescimento do e-commerce.

Quem também participou do debate foi a diretora de operações do iFood, Claudia Storch. Para ela, além da atividade ter aumentado exponencialmente, também deve tornar-se, ao longo do tempo, cada vez mais permanente. “É uma tendência as pessoas quererem mais flexibilidade, mais autonomia: de organizarem seu dia da forma que preferirem e poderem se dedicar a diferentes atividades ao mesmo tempo, sem a obrigação de cumprir horários, além da possibilidade de ganharem uma renda extra. Esses são fatores atrativos e que os nossos entregadores valorizam muito”, afirmou.

Ela comentou também que na relação com os autônomos, o iFood teve o cuidado em estabelecer contrapartidas concretas, como benefícios na área da assistência médica e fundos de auxílio para entregadores pertencentes aos grupos de risco ou mesmo para aqueles acometidos pela Covid-19. “Tivemos um cuidado no sentido de dar mais respaldo a esses trabalhadores que, mesmo autônomos, fazem parte da nossa dinâmica”.

Já o diretor de transformação logística da Via Varejo (dona das redes Casas Bahia e Ponto Frio), Daniel Ribeiro, levantou outro ponto interessante: os benefícios desse modelo de trabalho para os negócios. “A tecnologia garantiu escala à presença do entregador na operação, permitindo que muitos entrassem rapidamente na cadeia de distribuição, garantindo mais fluência aos processos. Antes, os autônomos transitavam apenas na órbita das transportadoras”, disse.

O executivo enfatizou ainda que a questão de custos evidencia a vantagem da participação do autônomo, porque dessa maneira, descentraliza a cadeia de distribuição e elimina o intermediário do processo, reduzindo gastos para as empresas. “E, quando se olha para o ponto da eficiência também só se vê ganhos, já que os autônomos buscarão sempre realizar um trabalho de qualidade para garantir cada vez mais renda para si próprios. Isso porque eles sabem que, se não produzirem, não faturam. Então, para conquistar mais, eles irão se dedicar cada vez mais, e para o negócio isso é muito bom”.

Ana Carolina também reforçou que o fator da tecnologia permitir a alavancagem dos autônomos nesse modelo de last mile garantiu uma “hiper agilidade na aproximação com o consumidor final, o que permitiu esse hiper atendimento do crescimento abrupto da demanda online”.
 
Vieram para ficar
Ponto comum entre os participantes do webinar, todos afirmaram que o autônomo encontrou seu lugar na cadeia de distribuição e a modalidade de trabalho – descentralizado e de fato autônomo -, deve tornar-se realidade. “Diferentemente do passado, quando o entregador não era tão autônomo, uma vez que estava de alguma forma ‘ligado’ a um elo específico da cadeia de entrega, agora, a possibilidade da multi contratação e a ausência de intermediários, que não existiam antes dos benefícios da tecnologia, trazem agilidade e benefícios para todos”, ressaltou Ribeiro.

Ana Carolina pontuou que todos saem ganhando no envolvimento de autônomos. “Mais uma vez, ganhamos em agilidade, em capilaridade e em custos. Toda a operação cresce e se agiliza, seja com bens duráveis e não duráveis. Os autônomos nos ajudam a atender as oscilações de sazonalidades mais severas, seja direto com os embarcadores ou na negociação com os transportadores. É uma oferta de transporte maior do que tínhamos”.

Claudia avaliou que, no caso do iFood, as demandas por entregas têm picos concentrados de alta intensidade – almoço e jantar, finais de semana e feriados, por exemplo – e a possibilidade de contar com os autônomos a qualquer momento é o que garante a eficiência desse modelo de entregas. “É o que nos permite ter a flexibilidade de navegar nesses picos e vales de demanda, interligando os restaurantes e os consumidores. É um modelo que se encaixa com muita eficiência no nosso tipo de negócio, porque não estamos presos a uma frota fixa”, concluiu.
 
Desafios da gestão da modalidade
A fragmentação da cadeia de entrega exige controle absoluto da operação – seja ela feita por entregador autônomo terceirizado ou pelo próprio operador logístico – e da marca do embarcador que está na linha de frente, exposta à experiência do consumidor. “A tecnologia nos permitiu passar de um modelo de entregas que envolvia o sistema postal e um número de tracking para o controle em tempo real. E isso aconteceu, em parte, porque o próprio consumidor não aceita mais as deficiências do passado. A tecnologia é fator decisivo no varejo”, salientou Ribeiro.
 
Ana Claudia acrescentou que a tecnologia também ajuda a reduzir o risco dos operadores e aplicativos e a antecipar gargalos. “A tendência é que as entregas sejam em prazos cada vez menores, com mais segurança e eficiência, e a tecnologia permite facilitar os três ambientes nos quais atuamos: o embarcador, o entregador e o consumidor. Ela nos permite analisá-los tanto separados quanto em conjunto”, disse.

“No iFood temos o cuidado de abrir espaço para ouvir as pontas que conectamos, ou seja, restaurantes e consumidores, para, a partir da experiência deles, aprimorar a tecnologia. No nosso caso, de cada 10 entregas, em média, sete são feitas pelos próprios restaurantes, mas, mesmo assim, temos o cuidado de saber da experiência dos envolvidos e de minimizar possíveis falhas. Essa visão da grande jornada é a grande missão dos aplicativos de entregas”, contou Claudia.

A legislação trabalhista é mais uma das adversidades nessa nova realidade com os profissionais autônomos. “Estamos na expectativa de uma legislação que possa regular essas relações trabalhistas, para definir e, eventualmente, padronizar as condições de trabalho”, complementou a executiva do iFood.

“A esfera pública acompanhar a velocidade da transformação e da adaptação da esfera privada é um grande desafio que temos pela frente”, afirmou Ana Carolina. Segundo ela, o ecossistema de negócios tem vivido uma aceleração muito intensa nos anos recentes e as diversas modalidades que o compõem têm os mesmos obstáculos.

“A inovação vai estar sempre à frente da lei, não tem jeito. Sempre haverá disrupção. Há de se ter a vontade de entender o negócio, porque estamos criando uma infinidade de oportunidades de trabalho. A velocidade para discutir essas questões é crucial, já que o e-commerce tem muito a crescer. É o nosso maior desafio”, opinou Ribeiro.

 

Crédito: Coletivo da Comunicação



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