Veículos são objetos de admiração, seja pelos proprietários, seja pelo público
em geral.
Quem nunca olhou uma Ferrari e literalmente babou? Barcos, aviões, motocicletas, automóveis e até mesmo bicicletas quando são bonitos, limpos e em bom estado arrancam suspiros de quem os vê passando na rua. A estética de veículos anda em alta por aqui, com diversos métodos de lavagem detalhista, envelopamento, pinturas exóticas, etc. E em se tratando de estética de motocicletas não poderíamos deixar de mencionar um personagem que se dedicou por toda a sua vida a elas. Em uma oficina de pintura, elétrica e mecânica bem montada e confortável em Botafogo, Rio de Janeiro, no estúdio do segundo andar trabalha um dos seus sócios, Luiz Carlos Paiva Pinto, o gênio da pintura em motocicletas, mais conhecido como Magoo.
Magoo é uma unanimidade quando o assunto é pintura e recuperação de estética em motocicletas. Eu particularmente acompanho seu trabalho há muitos anos. Não há em nosso meio quem não tenha ouvido falar desse profissional dedicado, perfeccionista e boa praça. À princípio magoo é um sujeito tímido, que escuta muito e fala pouco, quando não conhece bem seu interlocutor. É um sujeito extremamente educado, mas sincero. Não adianta chegar lá e falar que quer fazer um serviço “meia bomba”, “dar uma guaribada”. Perfeccionista como é, não faz serviço malfeito, nem pela metade.
Prefere não fazer. É prerrogativa de quem está há tantos anos no mercado. Quarenta e seis anos, para ser mais exato.
E como ele começou? “Foi por acaso. Em 1977 eu morava em uma casa e tinha compressor e alguns equipamentos de pintura. Eu tinha uma Yamaha R5 1971. A casa era grande, tinha um bom terreno e acabei pintando a minha moto e a de um amigo. Nós dois frequentávamos a mesma oficina mecânica.
O Patrulha, dono da oficina, viu a pintura que fiz nas motos e perguntou se eu não pintaria uma moto que estava lá. Eu tinha 19 anos de idade e fazia faculdade de economia com tempo livre durante boa parte do dia. Aceitei pintar a moto. O Patrulha gostou do serviço e começou a mandar outras motos para pintar. Outras oficinas e uma autorizada da Honda ficaram sabendo da qualidade e começaram a mandar as motos de seus clientes para que eu pintasse. Uns dois anos depois, o volume aumentou e tive que contratar 4 auxiliares. Nessa ocasião um amigo me convidou para ser trainee de um grande banco, mas não poderia trabalhar em um banco, fazer faculdade e pintar as motos, a essa altura com um volume de serviços já bem grande. Optei por seguir meu caminho no mundo da pintura das motocicletas. Aluguei uma loja perto da minha casa. Várias concessionárias e oficinas mandavam serviços para mim. Fui aprimorando minha técnica, conhecendo as tintas, usando um material cada vez melhor.”
E os desenhos nas motos? “Eu sempre desenhei um pouco, mas em lápis e papel. Comprei um aerógrafo”. (uma pequena pistola de pintura, parecida com uma caneta, fina e precisa, onde é possível desenhar pintando). “Há 40 anos atrás não havia internet, não havia ninguém que te explicasse técnicas desse tipo de pintura, não havia curso de pintura em aerógrafo.
Havia apenas alguns poucos livros e quase nenhum material de apoio. Por exemplo: hoje você compra em lojas especializadas em material de pintura uma espécie de peneira própria para coar a tinta a ser usada. Na minha época nós usávamos meia fina de mulher para coar a tinta para o aerógrafo.” (nos conta rindo). ” A gente tinha que ser autodidata. Aprendendo sozinho, testando e vendo o resultado. Ao longo dos anos, tudo foi melhorando: os equipamentos, as tintas e todo o material, que hoje está disponível para compra por qualquer pessoa. “
E quais as dificuldades você ainda encontra hoje em dia? “Todo o material evoluiu muito. Nesse aspecto não temos dificuldade. A grande dificuldade que sempre existiu e permanece até hoje é a tinta certa da motocicleta. Tirando as motos pequenas e alguns poucos modelos de motos maiores, não há código ou fórmula para fazer as tintas exatas originais. As fábricas não fornecem nem a tinta pronta, nem os códigos. Para pintar uma moto de grandes marcas como Ducati, Harley entre outras, se for uma moto nova, que sai com pigmentos novos, ou você importa os pigmentos ou você faz uma adaptação com o que você tem aqui. Essa é exatamente a minha especialidade: a gente faz qualquer tipo de cor igualando à original. E esse serviço é feito com verniz “de ponta”, mais caro, resistente à gasolina, aos raios UV e às intempéries em geral. Tem também as faixas, os filetes e isso demanda trabalho e atenção. Sou um “colorista à moda antiga”. Eu ainda faço a tinta olhando, aplicando, comparando e não por máquina. Com a experiência, eu sei que tipo de pigmento, o que a tinta está pedindo para chegar ao resultado esperado. “
Além de pintar as motos como saíram de fábrica, Magoo também pinta caveiras, chamas, rostos, asas, águias e qualquer coisa que o cliente pedir. Segundo ele, os mais difíceis são os “hiper realistas”, quando o cliente entrega uma foto de uma pessoa e pede que ela seja reproduzida em pintura na moto. “Qualquer micro sombra que apareça, muda tudo. Muda a expressão, muda o rosto da pessoa a ser desenhada,” diz ele.
Existem os clientes que o procuram para “um projeto”: mudar completamente a moto. É a chamada customização. Motos customizadas são únicas. Cada uma é de um jeito. Mudam guidão, para lama, setas, farol, painel, banco, escapamento e como não poderia deixar de ser, pedem uma pintura super personalizada. Alguns clientes já chegam com o projeto pronto. Outros pedem sugestões. Magoo tem bom gosto e experiência. Sabe o que fica bonito e o que não fica. Já tive a oportunidade de ver a entrega de algumas motos prontas aos seus clientes. Todos saem muito felizes, como crianças que ganham um brinquedo novo.
Mas se engana quem acha que ele só entende de pintura. Magoo é motociclista e são tantos anos com oficina que ele consegue muitas vezes diagnosticar um defeito mecânico ou elétrico antes mesmo de seus mecânicos encostarem na moto. Podemos chamá-lo de “multimídia”.
Temos Brasil afora dezenas de talentos como o Magoo, que trabalham com honestidade, capricho, bom gosto e profissionalismo. São eles que fazem nossas motos ficarem novas, diferentes ou únicas. Quem gosta mesmo de moto sabe o que isso significa. Aquela moto que estava “caidinha” com umas ferrugens aqui e ali, um parafuso escuro, uma pintura gasta, queimada, de repente ganha vida novamente. “Tá zero de novo”, a gente fala com aquela cara de felicidade.
Ao mestre Magoo e a todos esses profissionais, nossas homenagens da PRÓ MOTO MAGAZINE.