As curiosidades sobre os bastidores das transmissões das corridas.
Salve, salve amigos da COLUNA GALERA SHOW!
Os motores estão prestes a serem ligados para a temporada 2025, então decidi abrir meus arquivos e relatar algumas curiosidades sobre os bastidores das transmissões das corridas, são todas situações colecionadas ao longo desses anos nos autódromos e que a tela não mostra. Fatos verídicos e curiosos, mas que poucas pessoas conhecem e que de alguma forma vão apresentar também um pouco do que são meus finais de semana de corrida. Só lamento não termos tanto espaço por aqui para contar todas as histórias. Quem sabe mais para frente não escrevo um livro contando todas elas?
Está pronto para subir na garupa desse narradorzinho que vos escreve?
No motovelocidade, com mais de 95% das corridas com transmissão de streaming ou de televisão independente de qual campeonato eu esteja fazendo, acontece com frequência um fato muito comum na minha relação com os pilotos, principalmente com aqueles que nem sempre despontam nos pelotões de frente que é o famoso “fala de mim”. Basta o piloto me encontrar pelo paddock que logo vem o pedido… “lembra de falar de mim na corrida, sou o fulano de tal, da moto número tal, amigo do ciclano que corre na equipe tal”. Numa dessas ocasiões, um determinado piloto chegou em mim no sábado e insistiu muito para que eu falasse dele no domingo da corrida. Disse que tinha treinado muito bem, que largaria numa posição bem legal e que faria bonito. Enfim, a transmissão da corrida começou, o diretor de imagem mostrava o grid e eu com aquela conversa em mente e querendo corresponder às expectativas do piloto. Quando a câmera mostrou o piloto em questão eu não hesitei, falei que ele havia treinado bem e que prometia muito na corrida. A luz vermelha se apagou, as motos partiram e nada dele despontar ou apresentar algum destaque, foi perdendo posições e nada acontecia, não se aproximava de ninguém, ninguém se aproximava dele, os líderes se pegando no num primeiro pelotão e cada vez mais sumindo na frente fazendo com que as principais disputas ficassem nesse grupo.
A corrida terminou e eu me desloquei para fazer a cerimônia de podium. Não sei se para infelicidade do piloto em questão ou minha, nós nos encontramos nesse caminho, e ele, com a adrenalina “batendo no telhado” me abordou com a pergunta…
– “E aí?? Falou de mim?”
A resposta veio na hora. “Falei!!!”
Ele mais empolgado que antes insistiu:
– “Sério? Vou assistir assim que chegar no box.”
Não foi minha intenção, juro que não, mas eu me antecipei e contei para ele o que havia dito.
– “Cara, na hora que o líder se aproximou de você para lhe aplicar uma volta eu caprichei, falei que você havia respeitado a sinalização bandeira azul (bandeira que é sinalizada ao piloto avisando que o líder está imediatamente atras dele para aplicar uma volta e que ele deve dar a passagem). Falei que você fez direitinho o que tinha que fazer que era não atrapalhar o líder.”
Confesso que até hoje não sei se ele gostou, mas como era um cara legal seguimos amigos.
Um outro momento que não esquecerei tão cedo aconteceu a alguns poucos anos atrás. Estava tudo pronto para a primeira corrida do dia. Equipamentos testados, TV com a imagem da pista funcionando, tela de cronometragem no jeito e transmissão aberta. Na pista, subia a placa de “1 MINUTO” para a volta de apresentação e eu já no ar narrando os fatos, passando as condições do clima, temperatura, condições do asfalto e de repente um problema com a energia da sala onde estava montado a sala de transmissão desligou todos os monitores. A partir daquele momento, microfone funcionando normalmente, transmissão no ar e eu sem ver absolutamente nada, pois todos os monitores desligaram com a imagem da corrida e de cronometragem. Não havia tempo para mudar de sala, eu não teria tempo hábil para buscar ficar de frente para outro monitor que tivesse as imagens da pista, também não tinha nenhuma janela que me permitisse ter a visão do autódromo e mesmo que tivesse não conseguiria movimentar os cabos do microfone e do fone. Não parei de falar um instante sequer, sempre imaginando como devia estar sendo a volta de aquecimento e através do barulho das motos imaginando em que parte da pista eles estavam. Utilizando minhas folhas com o resultado do classificatório passei todo o grid de largada sob a luz da lanterna do celular para quem acompanhava a transmissão e por um rádio de comunicação da organização pedi socorro para a equipe de produção. Uma colega de trabalho competentíssima e acima de tudo confiável se posicionou em frente a um outro televisor numa outra sala onde tudo funcionava perfeitamente e através desse rádio me dizia, à grosso modo, o que estava acontecendo. Lembro até hoje algumas falas… “motos alinhadas Alê”, eu imaginava o fato e narrava, “luz vermelha apagou”, ela dizia… “piloto “x” largou bem e assumiu a liderança”, eu imaginava e narrava. Assim seguimos por pouco mais de 2 voltas da corrida até que o problema fosse resolvido. No fim, quem assistiu de casa, imagino que não tenha percebido o ocorrido, eu suando frio, mas com a satisfação por não ter demonstrado o problema. Depois da corrida ri aos montes e dei um efusivo abração nessa colega que foi de uma utilidade e de um talento que acredito que nem ela sabia que tinha para narrar (mesmo que friamente) num rádio comunicador.
Outro fato super curioso nessa minha relação com meu trabalho é que sou extremamente supersticioso e acredito cegamente em algumas situações que, coincidência ou não, os fatos mostram que realmente tenho razão. Sempre digo que não posso iniciar uma narração com desejo de ir ao banheiro. Caso isso aconteça são grandes as chances da corrida ser momentaneamente interrompida e demorar para sua retomada e dessa forma minha vontade de ir ao banheiro ficar praticamente insuportável. Certa vez em Goiânia as condições climáticas estavam estranhas. Algumas nuvens surgiram minutos antes da corrida começar e eu na correria não tive tempo de passar no banheiro antes do seu início da prova. Pois bem, a corrida começou e poucas voltas depois do seu início uma pancada de chuva caiu e obrigou o diretor de prova interromper a corrida para que todos os pilotos retornassem para boxes e realizassem as trocas dos pneus. Nesse momento eu já estava super apertado, mas a corrida deveria permanecer interrompida por pelo menos mais 20 minutos para que houvesse tempo suficiente para que todas as equipes colocassem os pneus, porém a transmissão não seria interrompida, ou seja, eu tinha que continuar a transmissão relatando esse processo todo.
Pois bem, aguardamos os 20 minutos e eu no ar narrando o que acontecia, o box foi reaberto, as motos seguiram para mais uma volta de instalação, depois mais uma volta de aquecimento antes de retomarem a corrida. Nisso tudo, mais de 50 minutos se passaram entre esses acontecimentos e o final da corrida. Lembro que narrava a corrida e as pernas juntas, tremendo, o comentarista perguntou se eu estava nervoso na tentativa de entender o que acontecia. Confesso que nunca torci tanto para uma corrida terminar. Ainda bem que deu tempo.
Pois é, nem tudo são flores na vida de um narrador de corridas meus amigos. Infelizmente não temos espaço para todas as histórias, mas prometo que um dia coloco todas elas num livro?
2025 chegou, a temporada da velocidade vai começar outra vez e tenho certeza que colecionaremos ótimas histórias aumentando ainda mais esse meu repertório.
Aos pilotos, independente do campeonato ou categoria que escolheram, espero de verdade que todos tenham uma ótima temporada, aos leitores, desejo que possamos estar novamente unidos pelo prazer que as pistas nos proporcionam. Que 2025 seja RACE TOTAL para todos nós!!!
Vamos chegando ao fim de mais uma edição, caso queira sugerir algum tema ou queira conhecer um pouco mais sobre esse que vos escreve mensalmente, vai lá no Instagram @ale.eiras.narrador
No mais, não esqueça de clicar na logo da 2MT Motorsport para conhecer os produtos e as novidades que por lá não param nunca.
E para terminar daquela forma que vocês já conhecem.
Imagens gentilmente cedidas pelos organizadores Juninho Trudes e Peterson “Pet”
Forte abraço GALERA SHOWWWWW!!!