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MOTOVELOCIDADE: A CONSTRUÇÃO DE DOIS CAMINHOS

Graças ao trabalho incrível de muitas pessoas (seria deselegante da minha parte apontar apenas um nome), temos a projeção das carreiras de alguns nomes brasileiros no cenário internacional e que não estão aparecendo apenas como figurantes e “preenchedores” de grids.

Para não perder o costume… “SALVE, SALVE GALERA!!”

Hoje trago para pensarmos, aquele que talvez, seja um dos temas mais discutidos nos grupos de pilotos, nos “podcasts” que falam sobre o bom e velho motovelocidade e nas redes sociais. Aquele que pode parecer um problema, mas que, me parece ser um “problema bom”, pois mostra o quanto vivemos um momento interessante dentro do esporte que é a discussão (no bom sentido) sobre qual o melhor caminho para o motovelocidade brasileiro.

Fazendo uma relação com o automobilismo, quantos de nós acordamos cedo nas manhãs de domingo para torcer por Ayrton Senna, Nelson Piquet, Barrichello, Massa, etc?? Quem de nós não se orgulhava de ver um piloto brasileiro brilhando na elite do esporte mundial? Assim foi também no motovelocidade com o grande Alex Barros, que, numa espécie de “ESTRANHO NO NINHO”, brilhou e ameaçou por tanto tempo os grandes nomes europeus no MotoGP e no WSBK. Porém, se olharmos atentamente, tanto na motovelocidade quanto no automobilismo vivemos situações semelhantes e acredito que tenhamos mais em comum quanto parece.

Se olharmos a pouco mais de uma década atrás, com a saída do Alex Barros do MotoGP, ficamos um grande período sem grande representatividade internacionalmente no motovelocidade, momento que foi quebrado com a chegada do Eric Granado e agora voltamos a sonhar com o próprio Eric e com os garotos Diogo Moreira, Humberto Turquinho e companhia. O mesmo acontece hoje no automobilismo, desde a aposentadoria da F1 do Felipe Massa seguimos sem um piloto oficialmente no grid principal do automobilismo e tendo no Felipe Drugovich e nos “Fittipaldis” (Enzo e Pietro) os nomes mais próximos, ainda que distante, de ocupar um dos bólidos da elite mundial.

Depois de tanta comparação, você leitor deve estar pensando agora… onde você quer chegar com esse assunto Alê? 

Quero apontar para dois aspectos ou caminhos, como intitulou essa matéria. O primeiro, é que hoje graças ao trabalho incrível de muitas pessoas (seria deselegante da minha parte apontar apenas um nome), temos a projeção das carreiras de alguns nomes brasileiros no cenário internacional e que não estão aparecendo apenas como figurantes e “preenchedores” de grids. Nossos pilotos vêm obtendo resultados expressivos nos principais campeonatos do mundo e isso mostra o quanto podemos sim sonhar alto. Porém, a carreira internacional ainda segue sendo algo extremamente complicado principalmente para pilotos brasileiros. Fatores externos, tais como, desvalorização da nossa moeda, distância do Brasil em relação aos principais centros do esporte, problemas com a distância da família, custo de vida e manutenção na Europa e me permito acrescentar um item que para mim faz muita diferença, a cultura do esporte e do apoio a ele no Brasil dificultam muito a vida dos nossos pilotos, que acabam muitas vezes iniciando uma temporada e muitas vezes não sabem se conseguirão se manter ao longo de todas as provas, e por isso, precisam matar um leão por corrida, entrar com a faca entre os dentes em busca de grandes resultados, o que por si só, já é uma carga gigantesca para se levar na garupa num universo tão competitivo.

O segundo caminho, que tenho comigo na longa vivência no mundo do esporte de forma geral, é acreditar que em qualquer esporte é muito mais fácil você tirar a qualidade se você tiver quantidade. Ou seja, acredito que quanto mais pilotos tivermos em ação, mais fácil conseguiremos ter pilotos de qualidade. Para isso, entendo que se faz necessário um amadurecimento, um trabalho de crescimento no esporte dentro do próprio país para darmos oportunidades para o aparecimento de novos talentos. Hoje vivemos isso claramente ao observarmos que todos esses pilotos tiveram passagens importantes dentro do esporte nacional, exceção feita ao Eric que foi tetracampeão do Superbike Brasil andando pelo time Honda na Categoria Pró, mas que também surgiu como uma joia rara num período onde pouco se falava de formação de base no esporte, e Diogo Moreira que iniciou cedo no motovelocidade correndo no Moto1000GP, seguindo para a Europa e depois correndo novamente em pistas brasileiras no Superbike Brasil por 1 ano e meio na antiga categoria Honda CBR500R, os demais iniciaram suas carreiras na Honda Junior Cup e depois evoluíram e lapidaram suas pilotagens na Categoria Yamaha R3 Cup. Por isso acredito tanto que precisamos continuar o caminho de fortalecimento do esporte dentro do nosso País, mantendo as categorias de formação para jovens pilotos, dando a eles a possibilidade de subir de cilindradas conforme vão crescendo também física e tecnicamente, vivenciando todas as situações existentes dentro de uma corrida ao longo dos anos.

Outro fator importante a ser levando em consideração. Temos que pensar que na maioria dos casos, até pelo estreito “funil” das competições mais importantes do mundo, poucos serão os talentos que por lá permanecerão e fica a pergunta… e os outros, que mesmo com muito talento, não ultrapassarem essa estreita e seleta passagem? E aqueles que até chegarem e não conseguirem permanecer por muito tempo?? Precisamos ter dentro do mercado nacional competições estruturadas que consigam dar conta dessa demanda, oferecendo aos pilotos de regressarem e às equipes condições de sobrevivência e possibilidade de alocar esses talentos em seus times. 

Lógico que esse é o cenário ideal, precisamos compreender que temos muitas dificuldades a serem ultrapassadas por aqui também. Impossível não considerar que tempos pouquíssimas praças em condições de receber as grandes competições, praças que estão com autódromos ultrapassados e degradados, precisando de reformas e adequações ao momento do esporte e outras praças que até apresentam autódromos novos e seguros, porém com problemas de infraestrutura hospitalar, hoteleira, dentre outras para receber os adeptos do esporte. Tenho visto presencialmente que grandes investimentos financeiros no aspecto de segurança estão sendo feito por organizadores, mas cá pra nós, não vemos o mesmo empenho em alguns administradores de autódromos (existem suas exceções também). Pondero ainda, que hoje é difícil termos competições nacionais atuando em todas as regiões do país, problemas com custo de logística e com uma concentração muito grande de pilotos nas regiões Sudeste e Sul também precisam ser levadas em conta num país continental como o nosso.

Olhem como tudo isso é muito parecido com o automobilismo. Nos últimos anos vimos o Brasil perder força dentro das principais competições internacionais e em contrapartida vimos, por exemplo, a Stock Car receber nomes importantes do pais que passaram por F1, Formula Indy, etc. Pilotos como Barrichello, Massa, Kanaan hoje somam-se aos grandes nomes da categoria e levam grandes públicos aos autódromos do país na principal categoria do automobilismo nacional. Alguém acha que isso também não pode acontecer no Motovelocidade?

E nessa espécie de “copo meio cheio e copo meio vazio”, mesmo com todas as dificuldades nos dois caminhos, estamos conseguindo pavimentar boas estradas. Não me lembro de termos campeonatos com tantos jovens, com categorias de acesso para pilotos mais velhos que pilotam sem a ambição de carreiras profissionais, com categorias crescente em cilindradas, em faixas etárias e evolução técnica, presença de público numa crescente no pós pandemia, com empresas que mesmo vivendo ainda as crises econômicas timidamente já conseguem buscar visibilidade dentro do motovelocidade, e por fim, organizadores que estão trabalhando para o crescimento e aperfeiçoamento dos aspectos de segurança, competitividade e deixando razão e emoção trabalharem para o bem do esporte. Sinto que ainda podemos mais, que podemos fazer melhor, que podemos evoluir muito e assim trazermos para junto do esporte melhores condições de visibilidade para pilotos e marcas.  

Por isso meus amigos, precisamos nos desprender do saudosismo, da “síndrome de vira-lata” que sempre acha que aqui nada dá certo e acreditar que temos sim dois ótimos caminhos pela frente. E que bom que é assim, afinal, democraticamente permitimos que cada qual faça suas escolhas.  

Lógico que esse tema ainda levanta muitas e muitas outras questões, que cada um de nós temos nossas próprias opiniões e necessariamente não precisamos concordar, mas precisamos respeitar todas as opiniões. Essa discussão ainda está longe de um final, ainda podemos e devemos buscar novos modelos e aproximações para o bem do esporte.

Espero que tenham gostado e quero encontrá-los novamente por aqui.

Forte abraço…

GALERA SHOWWWWW!!!!



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