HomeRevista PróMOTOVELOCIDADE – VERDADEIRO, VERUS... VERÍSSIMO!!

MOTOVELOCIDADE – VERDADEIRO, VERUS… VERÍSSIMO!!

Amigos essa é uma edição especial da minha coluna. Vou me permitir trocar o SALVE, SALVE GALERA! Pelo VERDADEIRO, VERO, VERISSIMO!!!

Amigos essa é uma edição especial da minha coluna. Vou me permitir trocar o SALVE, SALVE GALERA! Pelo VERDADEIRO, VERUS, VERISSIMO!!!

Essa é uma edição extra, feita de forma carinhosa e saudosa para lembrar de alguém que só me fez o bem ao longo de quase 10 anos, André Verissimo Cardoso, ou simplesmente André Verissimo #9. 

Poucas vezes vi um nome representar exatamente o que era a pessoa. Verissimo é oriundo do Latim Verissimus= muito verdadeiro, que é o superlativo de Verus e se traduz em verdadeiro, real ou justo.

Antes, porém, me permitam lamentar profundamente a passagem do Erico Verissimo, a quem não conheci pessoalmente, mas espero que esteja bem e que a família possa se sentir confortada nesse momento tão difícil.

Não quero tristeza nesse texto e acho que o Verissimo também não gostaria que fosse assim. Ele sempre foi intenso, dormia pouco porque queria viver muito, nada que ele se prontificasse a fazer era pela metade ou faltando algo. Ele pensava em tudo e se dedicava a tudo de forma única, e ao mesmo tempo plural, afinal, ele pensava mil coisas ao mesmo tempo e tudo com muita criatividade e disponibilidade.

Conheci o André Verissimo nos boxes de Interlagos, ele ainda no time Tecfil (eu acho) e no primeiro momento falávamos pouco, não tínhamos amizade, nem qualquer tipo de vínculo, porém, via nos bastidores todos se aproximando dele e saindo com um sorriso no rosto depois de um bate-papo prazeroso.

Não sei precisar quando nos aproximamos, mas quando nos aproximamos, logo percebi que se tratava de um cara super comunicativo e que tinha uma paixão por aquele mundo simplesmente sureal. Um cara que chegava alegre em qualquer ambiente do autódromo brincando com todo mundo, super extrovertido, independente do que tivesse acontecido e sempre disposto a acrescentar algo na vida de quem se aproximasse dele.

Quando começamos com a ideia de ter pilotos comentando as corridas, ele foi um cara que prontamente se colocou a disposição. Naquela época, ele ainda não tinha a rede social gigante que alcançou com o passar do tempo. Ele se tornou o verdadeiro rei dos “reels”.

Quando ele participou comigo pela primeira vez de uma transmissão foi o famoso “casamento perfeito”, o cara já chegou todo desinibido e cheio de vontade de contribuir. Tenho certeza, que essa é a melhor definição para a participação dele, “cheio de vontade de contribuir”. Não estava lá buscando mídia, não estava lá forçado, não estava lá por obrigação. Estava lá porque queria contribuir, assim como sempre contribuiu com pilotos, fossem eles concorrentes diretos ou não, novatos ou experientes. Ele era o campeão do quesito AGREGAR.

Quantas e quantas vezes cheguei para ele no sábado e disse… “estou pensando em não colocar você pra comentar amanhã, sua corrida é muito próxima da categoria que você vai comentar e prefiro que você foque somente na sua corrida.”. Isso era quase que dizer para uma criança que ela estaria de castigo por fazer malcriação. Na mesma hora ele já me interrompia dizendo que daria tempo, que subiria de macacão no corpo para adiantar e depois era só subir na moto porque o Paulinho já a deixaria pronta.

Quantas vezes ele terminou a corrida dele e subiu com o macacão na altura da cintura, com um calor de 40º só pelo simples fato de estar comigo na transmissão. Todas as vezes ele chegava todo agitado e eu logo chamava sua atenção. “Vem com calma, fala o quanto você quiser, mas a última volta é minha, não me interrompe na última volta, a não ser que eu te chame, ok?”. Era o mesmo que falar para a chuva não me molhar (rsrs). Mas era espontâneo, era algo maior que ele, era impulso, sabe?

Minutos antes de abrir a corrida ele sempre estava com uma latinha de energético ou uma garrafinha de água na mão, ou estava fazendo piadinhas, ou gravando “stores” convidando a galera pra assistir a corrida que ele comentaria em seguida. Muitas vezes eu lá, todo atrapalhado trocando as listas das corridas, respondendo mensagens pelo rádio, ou resolvendo algo para entrar no ar e vinha a voz… “olha pra cá Ale e dá um salve pra galera!”.

Em 2020, ano louco de pandemia, com etapas acontecendo quase que a cada 15 dias na reta final do campeonato, o André estava voando em sua categoria. Fora campeão por antecedência na etapa do Potenza e o time PSBK tinha um combinado entre eles que os campeões pintariam o cabelo. Até então eu não sabia de nada. O André correu, foi campeão em sua categoria e foi comentar a corrida. Chegou quietinho, até estranhei, afinal, acabará de ser campeão. Como eu já havia dado os cumprimentos minutos antes da transmissão, então nem me preocupei. Ele foi, comentou a corrida e foi embora para casa escondido da equipe para não correr o risco de pintarem o cabelo dele. No final do dia passei pelo time do Paulinho e vi o Felipinho com o cabelo pintado e perguntei o que era aquilo? O Felipinho me respondeu que era um combinado da equipe e todos que foram campeões naquele dia pintaram o cabelo. Perguntei… e o Verissimo pintou? Ele comentou a corrida e não estava loiro. Na mesma hora o Paulinho respondeu:

Fugiu aquele safado, mas em Goiânia ele vai ver o que vou fazer com ele.

Dito e feito. Etapa final em Goiânia. Corrida marcada para domingo 20/12/2020. Na quinta-feira 17/12 já começaram a pipocar nas redes sociais fotos e vídeos do André praticamente ruivo. Barba, cabelo na mesma cor. Não sei o que não deu certo, o fato era que todos tinham ficado loiro, só o Verissimo estava ruivo. Para completar, chego na sexta-feira no autódromo e me deparo com a moto do Verissimo toda na cor rosa, escrita em baixo “NUTELLA”. O Paulinho disse que aprontaria para ele e assim o fez. Pena que naquela etapa, por conta da pandemia, não tínhamos o público no autódromo para ver de perto a beldade ruiva com sua moto rosa. Eram só risadas por todo Superbike Brasil.

E o André como estava? Estava rindo mais que todo mundo com a brincadeira, curtindo cada segundo daqueles momentos com a equipe. Porém o melhor ainda estava por vir.

Corrida de domingo, Verissimo larga bem e vai embora na frente. Alguns segundos atrás várias disputas, Duende, Skaf, etc. Como o André já era campeão em sua categoria e tinha uma vantagem confortável a frente me permiti entrar na brincadeira. Toda vez que a imagem mostrava a moto do Verissimo eu chamava de Penelope Charmosa, de Pantera Cor de Rosa. Lembro de ter falado sobre a cor do cabelo e da barba do Verissimo e isso foi tomando forma no chat da transmissão. O Mamute, meu convidado especial naquele dia, rapidamente pegou o espírito da brincadeira e também fazia seus comentários sobre o fato naquele momento. 

Mas… Verissimo é Verissimo!! Volta final, eu caprichando na narração para ficar algo que servisse de grande recordação ele entra na reta. Olha para o time pendurado na grade e fica em pé sobre a moto. Mãos ao ar, todo pimpão e não percebe que rasgando a reta a 300 km/h vinham o Duende e o Skaf brigando por um lugar mais alto no pódio. Eu que já tinha visto aquele filme anos antes com o Juracy Black não pensei duas vezes, comecei a gritar… OLHA O DUENDE VERISSIMO, OLHA O DUENDE VERISSIMO! E por fim, eu já rindo horrores da trapalhada do Verissimo dei o último grito/riso… OLHA O DUENDE VERISSIMOOOOOOOOO!

No final, eu e o Mamute não aguentamos, começamos a rir juntos na sala e mal sabíamos o tamanho que esses poucos segundos representariam na vida do Verissimo e na minha.

Muitos acham que ele fez isso de propósito para ganhar novos seguidores nas redes sociais, etc. Mas o fato que poucos sabem é que ele tinha por hábito comemorar suas vitórias com a equipe na grade. Mas, como anualmente temos uma grande quantidade de corridas em São Paulo, e Interlagos corre no sentido ante horário, o posicionamento do box da equipe PSBK fica diferente em relação a linha de chegada, se comparado com Goiânia. Em São Paulo eles sempre estão posicionados após a linha de chegada, ou seja, a comemoração é feita depois da bandeirada. Em Goiânia, por conta da pista ser no sentido horário, o box do time fica posicionado antes da linha de chegada e o Verissimo simplesmente não se atentou a isso. Mas, se essa é a verdade absoluta nunca mais saberemos.

Dias depois, estou a noite em casa e recebo uma mensagem de Whatsapp do Verissimo. Alê nosso vídeo está ganhando o mundo. Já foi passado em mais de 21 países, está “viralizado” na internet e o Globo Esporte São Paulo já me ligou querendo gravar uma matéria. A felicidade dele era a mesma de uma criança que “trolou” um coleguinha na brincadeira de rua. Na hora só respondi para ele… Obrigado, te amo, você me deixou “famosinho” por alguns dias.

Até hoje, quase 3 anos depois, ainda recebo mensagens de pessoas falando sobre esse vídeo, ou sou abordado no autódromo com alguém gritando ou pedindo para eu gritar “Olha o Duende Verissimo!”. Esse fato nos aproximou ainda mais e dificilmente eu voltarei a brincar com alguém usando essa frase. 

Pensando bem, talvez a use sempre, como uma forma de homenagem a ele, e tenham certeza, sempre que me ouvirem dizendo essa frase, saibam que no momento que eu falar, internamente estarei com o sorriso dele na memória. Ele deveria ser o primeiro a não querer mais ouvir essa frase, mas, graças a maneira que sempre viu a vida, pelo contrário, ele sempre foi o primeiro a gritar a frase para mim abrindo um sorriso gigantesco.

Galera, meu propósito com a coluna é sempre trazer assuntos relevantes e mostrar um pouco dos bastidores, aquilo que as pessoas que não está no autódromo infelizmente não tem condição de ver ou sentir. 

Essa matéria representa um pouco do tamanho dessa perda para mim. Amo meus heróis que usam macacões e capacetes e não cuecas por cima das roupas. Independente de qual categorias corram, da posição que chegam, ou de ondem veem, eles são meus heróis. Esse amor é oriundo da vontade que sempre tive, mas que a falta de coragem talvez não tenha me permitido realizar. 

Quero acreditar, que para nós do mundo do motovelocidade, o André foi promovido por Deus. Ele abandonou a condição de piloto e assumiu a posição de Anjo da Guarda. Certamente o Anjo da Guarda mais intenso que Deus já teve por perto!!

Meu carinho às famílias dos “Verissimos” e a toda família do motovelocidade.

Para terminar deixo uma frase e gostaria que vocês ao ler me ouvissem gritando…

VAI VERISSIMO, VAI VERISSIMO, VAI VERISSIMOOOOOOOOOOOOO!!!!



Veja mais em Revista Pró

Leia Também