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Os bastidores de uma campeã.

Moara Sacilotti e sua família contam um pouco da saga durante a conquista do 3º lugar na temporada 2023 no Rally dos Sertões.

O Rally dos Sertões é sem dúvida um dos maiores desafios mundiais e para os participantes a maior prova de resistência que um piloto pode enfrentar. A 31º edição chegou ao final em 19/8 e contou com o percurso de 248 km, sendo 140 de especiais repletas de obstáculos, exigindo ao máximo dos participantes.

Dos 307 competidores da edição, apenas 11 mulheres participaram, entre elas a piloto Moara Sacilotti, única mulher campeã em uma categoria masculina do Sertões. Moara deixa claro que o trabalho árduo é primordial na busca pelo resultado e afirma que sua equipe de apoio é a melhor de todas. Para entender um pouco mais sobre o que acontece nos bastidores, conversamos com a piloto e sua equipe, o marido Rodolfo e seu pai Gilberto.

– MOARA

Tudo no Sertões é muito intenso. E tudo acontece muito rápido. Todas as especiais largam as 7h da manhã, então, dependendo do tamanho do deslocamento, tem dias que eu saio do parque de apoio às 3:30h da madrugada. Quando chego no fim da tarde, são tantos afazeres que quando me dou conta já é preciso dormir, para acordar as 2:45h… Na equipe de apoio, cada um tem sua função e sabe o que tem que ser feito. O chefe de equipe monta as estratégias de cada etapa, coordena os veículos e galões de combustível, etc. Minha equipe é pequena e familiar, mas extremamente profissional. A confiança que tenho neles é fundamental para meu bom desempenho na prova. Todos sabem que estão lá por isso – para ajudar a fazer o meu melhor no rally.

No Sertões 2023 meu marido, Rodolfo, assumiu mais uma vez a função de chefe de equipe, carregando nas costas a maior parte do estresse e cobrança por nosso resultado. Além de dirigir e trocar pneu do carro de apoio

– GILBERTO

Era a 6ª etapa do Sertões, saímos de Crato-CE às 4:30 h da manhã do dia 17 de agosto de 2023 e teríamos aproximadamente 600 quilômetros para chegar em Sobral-CE, nosso destino naquele dia.

Eu estava dirigindo o Motorhome – o “caminhãozinho” – e o Rodolfo navegando, me mostrando o caminho a seguir segundo as orientações da organização do Rally.

Estávamos nos aproximando de Assarié por uma bonita serra, estrada sem acostamento mas com asfalto novo, com pouco movimento de carro mas com bastante moto, quando levamos um grande susto, uma explosão no caminhãozinho – o pneu estourou. Numa rápida parada eu pude conferir que o pneu traseiro do lado esquerdo tinha estourado, mas era o pneu interno. A rodagem do caminhãozinho é dupla e o pneu externo estava lá, um tanto baixo pelo peso, mas estava lá e assim eu poderia rodar até encontrar um lugar para parar o caminhãozinho. E assim foi, rodamos um pouco e encontramos um bom local para parar, era a entrada de uma chácara. Dalí não poderíamos andar mais porque aquele pneu murcho se soltou da roda.

Junto com a gente parou um motoqueiro com sua Bis para nos dizer que o pneu estava “seco” mas que logo ali na frente tinha uma borracharia. Foi então que Rodolfo pediu para o motoqueiro chamar o borracheiro para vir nos socorrer. Enquanto o borracheiro não vinha eu retirei as ferramentas e o estepe, e me preparei para retirar as rodas – que nada, a ferramenta do caminhãozinho não era forte o suficiente para soltar os parafusos das rodas. A alavanca entortou mas os parafusos ficaram lá, intactos

Já passava das 6 horas da manhã quando parou uma caminhonete de uma outra equipe do Rally para oferecer ajuda e aí pedimos para que reforçassem o chamado na borracharia. Em seguida o morador da chácara veio assuntar o que era aquilo.

Depois de saber do ocorrido ele se apresentou e começou a contar os causos dele: “Valdemar é o meu nome, aqui em Assaré todos me conhecem como Valdemar. Mas aí eu fui abrir conta no Banco a mode de receber a aposentadoria, o gerente perguntou meu nome e pediu os documentos. Daí ele me disse que não, o meu nome não é Valdemar, que meu nome é Antonho, respondi que ninguém me chama de Antonho e que Antonho era só no papel. Mas o gerente não quis conversa e lá no Banco eu me chamo Antonho”.

Eita papo bão! Conversa vai, conversa vem, ele me disse que o filho dele tinha acabado de tirar o leite da vaquinha dele que fica ali na chácara e nos convidou a entrar e beber o leite. O Rodolfo mal respondeu, duro e travado que estava, mas eu não poderia fazer uma desfeita ao Seu Valdemar e aceitei o convite. Entrei na casa e a esposa do Seu Valdemar, a dona Margarida, estava acabando de passar o café. Ficamos nós três tomando café com leite deliciosos e conversando sobre a vida e sobre a estrada que até pouco tempo era de terra.

Eu estava tranquilo, afinal havia um borracheiro e ele já deveria ter sido avisado duas vezes. Duas vezes não. Cada moto que passava e passava um tanto bom de motos, o Rodolfo pedia para parar e solicitava que avisassem o borracheiro.

O tempo corria, eu distraído lá na casa do Seu Valdemar e Dona Margarida, quando ouço o Rodolfo me chamar, um tom de voz bastante alterado e nervoso, que fez o Seu Valdemar me perguntar porque que aquele homem era tão esquisito, porque não conversou, não aceitou o convite para entrar e beber um café com leite e, ainda por cima, ficava lá parado, só olhando para a estrada?

_ Ah Seu Valdemar, não liga não, ele é esquisito assim mesmo – coitado. O pior é que minha filha escolheu casar com ele e daí pra onde eu vou eu tenho que levar ele. Mas eu

– RODOLFO

Para entender o que aconteceu na sexta etapa do Rally do Sertões 2023, é melhor voltar uns dias na prova.

Após a 4ª etapa do rally, que saiu de XiqueXique(BA) e que foi a segunda perna na etapa Maratona, voltamos para Petrolina(PE). Foi um deslocamento de aproximadamente 700km, tivemos um pneu da S10 furado, perdemos umas 2 horas para resolver esse problema, chegamos em Petrolina por volta das 21h, eu e o Renato (Natão), e como no rally a gente nunca descansa, então tivemos que comprar combustível para a moto e  abastecer o carro, jantar, entender os tracks do GPS enviados pela organização que mostravam os pontos de apoio, e elaborar a estratégia de abastecimento da 5ª quinta etapa junto com Dionisio (mecânico) e tentar descansar um pouco, pois nossa previsão era de sair às 3h da manhã novamente para conseguir cobrir os pontos de apoios da Moara.

 – MOARA.

Como eu disse no começo, confio, sei que meus apoios vão fazer tudo funcionar. Quando soube do pneu furado da caminhonete que o Rodolfo dirigia e a grande dificuldade que teve para retirar e consertar o pneu e, por isso, que eles demorariam para chegar, fui dormir sabendo que estaria tudo perfeito para a próxima etapa. Minha surpresa ao acordar, foi ver que o Rodolfo não estava no beliche dele, e o Renato já foi logo dizendo “fica tranquila que tá tudo certo”, me contou rapidamente a saga do hospital e saímos; subi na moto e imediatamente me esqueci deles, focada em fazer a melhor corrida. Era a 5ª etapa, numa região que eu sabia que seria muito boa de pilotar, do jeito que eu mais gosto, com pedras e serras… Voei, foi incrível!

 – RODOLFO

Na madrugada da 5ª quinta etapa que sairíamos de Petrolina(PE) para Crato(CE), por volta da 1h da madrugada começaram os problemas, você deve estar se perguntando ou pensando que a moto quebrou, que o motorhome atolou ou que nossa piloto Moara teve algum problema, nada disso. Eu que tive uma crise de dor na coluna dentro do motorhome. Foi uma puta dor que eu nunca tinha sentido nada igual antes.

Dentro do MotorHome estavam dormindo a Moara, Gilberto, eu e o Natão. Todos acordariam por volta das as 3h da manhã para iniciar a jornada da 5ª quinta etapa. Com muita dor e tentando não acordá-los e buscando uma solução para minha dor, não tive outra opção, acordei o Natão para pedir ajuda.

Pela estratégia elaborada na noite anterior, era da minha responsabilidade cobrir os pontos de apoio junto com mecânico do Dionisio, enquanto o Natão junto com Gilberto levariam o Motorhome para próxima cidade, parece simples, mas minha cabeça começou a fritar em uma solução. Após acordar o Natão, pedi para ele me levar no hospital e descobrimos uma unidade da Unimed bem perto do nosso acampamento, o Natão ficou cochilando no carro enquanto eu tomava medicação para dor. Quando terminei de tomar a medicação me senti um pouco melhor mas me vi impossibilitado de continuar com minha função e estratégia criada na noite anterior, então passei todas coordenadas para o Natão, mesmo sem dormir a noite, trocamos de lugar. Natão seguiu o plano e fez o abastecimento da Moara enquanto eu e o Gilberto seguimos dirigindo o Motorhome para Crato(CE).

A viagem para Crato até que foi tranquila, pois a medicação estava fazendo efeito, mas chegando em Crato após horas sentado no banco de passageiro do Motorhome, tivemos que fazer uma parada em uma farmácia, pois a dor estava lá, sem dar trégua. Estávamos bem no centro da cidade de Crato(CE), ruas estreitas, muita gente, trânsito louco e a gente com um caminhão parado em local proibido, vimos um fiscal de trânsito de moto, e pensei, – “ele vai encher o saco, vai pedir para tirar o caminhão dali etc…” mas para nossa surpresa o fiscal de trânsito resolveu nos guiar até o local do acampamento do rally. Ele e sua moto com toda autoridade local, foi fechando as ruas, impedindo o trânsito e abrindo caminho para gente passar livremente até chegar no acampamento.

Devidamente instalados em Crato(CE), Moara tinha feito uma prova boa, o Natão conseguiu chegar aos pontos de abastecimentos conforme tínhamos combinado e eu com minha dor estávamos estáveis, parecia que ia melhorar, então a Moara falou para eu procurar um fisioterapeuta que ela conhecia do rally, talvez uma massagem, uma liberação na musculatura pudesse melhorar. Nada disso, após a fisioterapia parecia que eu estava ficando cada vez mais travado, sem conseguir ficar em pé. Deitar ou sentar já se tornaram problemas e percebi que a estratégia do Natão de continuar fazendo os abastecimentos rápidos era a solução, enquanto eu faria os deslocamentos com Gilberto no Motorhome

 Enfim a 6ª sexta etapa.

Como é comum da nossa estratégia, acordar cedo e sair antes das carretas e evitar o grande trânsito nas estradas. Levantamos cedo. Moara se arrumou e saiu para largada da sexta etapa, o Natão já estava com os tracks do GPS em mãos e seguiu de camionete para o abastecimento, enquanto eu e o Gilberto tínhamos que levar o Motorhome até a próxima cidade, Sobral(CE). Eram 576km de distância, como a gente pegou estrada ainda antes do amanhecer nossa, previsão era de 6 horas dirigindo, pensei – “tô com dor, tá foda, mas vou aguentar”.

O dia amanheceu e o Gilberto já tinha dirigido uns 100km, de repente: “BUMMMM” – explodiu um pneu do motorhome em uma estrada sem acostamento e sem sinal de celular. Ainda não era 6 horas da manhã, o Gilberto conseguiu parar o caminhão na entrada de um sitio na beira da estrada. Avaliamos a situação: era 1 pneu estourado e 1 pneu destalonado, não tinha muito o que fazer, o Gilberto pegou as ferramentas para tentar soltar a roda, mas sem sucesso.

Na estrada passavam algumas motos, paramos a primeira, perguntamos sobre uma borracharia mais próxima, e o motoqueiro, falou “vou lá chamar o borracheiro”. Passaram mais algumas motos dos moradores locais e uns 30 minutos depois, parei outra moto, perguntei sobre a borracharia, se tinha como ele me ajudar etc…

E fui procurar o Gilberto.

O Gilberto já estava tomando café com leite do Seu Antônio, proprietário do sitio da beira da estrada, batendo papo, contando histórias que só eles entendiam. Na linguagem “nordesteis” o Gilberto é fluente. O Seu Antônio era surdo, eu não conseguia prestar atenção nas palavras que saiam da boca dele, era uma língua muito diferente do nosso português, talvez a minha dor tenha tirado meu interesse em querer prestar atenção no assunto, pois me via muito distante da cidade de Sobral(CE) e com muita dor. Aproveitei o motoqueiro parado, e falei pro Gilberto pegar uma carona com ele e ir procurar o borracheiro da cidade mais próxima – Assaré(CE). O Gilberto sobe na garupa da moto e some na estrada enquanto eu esperava o retorno dele com a solução do nosso caso dos pneus estourado e destalonado

 – GILBERTO

O Rodolfo tinha parado mais um motoqueiro, mas dessa vez era para me levar na garupa e lá fui eu. De bermuda, “chinelas” e, claro, sem capacete – isso, o capacete, não é muito usado lá. O motoqueiro se chamava Luiz e como íamos devagar a conversa fluiu e eu consegui entender quase tudo. Seu Luiz já havia morado em São Paulo, na cidade de São Bernardo do Campo e lá trabalhou como metalúrgico. Foi com toda a família e quando resolveu voltar o filho mais velho ficou e está lá até hoje. O menino casou e tem um filho que Seu Luiz ainda não pode conhecer. Mas ali ele estava feliz. O lugar é mesmo bonito, ou estava bonito: os açudes cheios, os campos verdejantes, os moradores conhecidos e, por falar em morador, o Seu Luiz me contou que estávamos na terra natal de Patativa do Assaré, um poeta internacionalmente reconhecido e um exímio escritor da literatura de Cordel.

Enfim, o seu Luiz me deixou na frente da casa do borracheiro onde, de fato, havia uma placa escrito: Borracharia do Evandro. Mas não tinha ninguém na casa e de tanto que eu chamei, saiu a vizinha para me dizer que ele tinha saído para levar as crianças na escola e que votaria num instante.

Enquanto eu esperava o Evandro, começaram a passar, vindo de outra estrada, os UTVs da competição e acho que isso me distraiu pois quando finalmente o Evandro chegou eu disse para ele seguir pela estrada por onde tinha vindo os UTVs, mesmo com ele me avisando que todos que haviam parado ali para chama-lo tinham indicado outro caminho.

Eita, depois de andar uns cinco quilômetros errados e carregando pesadas ferramentas na garupa da moto, eu pedi desculpas e fiz o Evandro voltar e pegar o outro caminho, a estrada certa que ele queria fazer desde o começo. Era mais uma perdida minha que eu não precisaria contar a ninguém, só não pedi sigilo ao Evandro.

Evandro também morou em São Paulo, também trabalhou como metalúrgico. Juntou dinheiro e voltou para Assaré para montar a borracharia

 – RODOLFO:

Não sei quanto tempo passou, não foi rápido, esperei bastante até a chegada do borracheiro Evandro numa motinha, com o Gilberto na carona carregando as ferramentas necessárias para trocar os pneus. Uma das ferramentas era um bastão de ferro de 1,5m para servir de alavanca para soltar os parafusos da roda. – “Ufa, vamos sair daqui e seguir viagem”, mas o clima nessa hora estava estranho, o borracheiro Evandro prontamente já foi trabalhando na prévia solução e tinha um sorriso no rosto que parecia ter acontecido algo, Gilberto já foi assuntando com Seu Antônio com toda fluidez no “nordesteis” quando o borracheiro Evandro solta: “a gente se perdeu”, “a gente andou 10km no outro sentido”. Evandro contou que enquanto pilotava a moto Gilberto insistia que o caminho que ele indicava estava certo e o Evandro dizia que estava errado e demorou para que ele se convencesse disso.

Pronto, estepe no lugar, já dava para levar o caminhão até a borracharia do Evandro, Gilberto se despediu do Seu Antonio e da sua esposa, o Evandro subiu na moto e sumiu enquanto nos aprontávamos para seguir até a borracharia onde o Gilberto tinha conhecido o borracheiro Evandro. Seguimos por uns 5km ou mais até a casa onde estava escrito no muro “Borracharia do Evandro”, mas nesse ponto a moto do Evandro e nem ele se encontravam. Foi só um pequeno desencontro, a borracharia e o Evandro borracheiro, que estava sentado nos olhando, ficavam na mesma calçada, na beira da estrada, 150m à frente.

Por sorte o motorhome além do estepe padrão, também levava um pneu extra, enquanto o Evandro montava as rodas, pneus etc… surge uma mulher cearense arretada, falando alto, parecia até uma briga, ela falava alto e argumentava com o borracheiro Evandro a situação da revisão da moto dela que tinha sido feito por algum mecânico local e ela estava bem descontente com serviço – “… é que nem ir no médico e não ter dinheiro para comprar o remédio…” – com o tom da voz e postura agressiva achei que uma briga era quase eminente, e quando resolvo olhar e prestar atenção, o Gilberto estava no meio da conversa dos dois, e pensei “ah, pronto vai arranjar confusão”. Nada demais, eram apenas cearenses do interior tendo uma conversa amigável por volta das 9 horas da manhã, quem morava por perto e não tinha acordado ainda, com certeza se levantou após essa conversa.

Novamente na estrada, ainda faltavam uns 400km para Sobral. Gilberto ficou com sono e precisava descansar um pouco, mesmo com dor assumi o volante e dirigi mais uns 80km, trocamos novamente e minha dor só piorava, sentia choques intensos no nervo do braço e via que a viagem estava só começando e tinha muita coisa pela frente. Gilberto assumiu a boleia e levou o caminhão até o acampamento do rally, na cidade de Sobral. O acampamento foi montado em uma pista de aeroporto desativada bem perto do centro da cidade, chegamos ao anoitecer e minhas dores já estavam insuportáveis. Logo na entrada do acampamento, seguindo o ponto marcado no track oficial enviado pela organização da prova, tinha uma grade e um segurança a distância, desci do caminhão já tirando a grade para Gilberto entrar com caminhão, e bem atras da gente foram chegando outros caminhões maiores na mesma situação, foi quando o segurança grita: “Ei, Ei, ai não, ai não” – respondi com toda educação e paciência de uma pessoa com dor – “Ei o caralh…! tô 17 horas dentro desse caminhão e vou entrar aqui agora”, no mesmo embalo os outros caminhoneiros do rally compraram minha briga e adentramos no local do acampamento sem restrições do segurança.

Enquanto Gilberto procurava um local para estacionar o motorhome, já desci do caminhão, tomei uma cerveja bem gelada em um gole só, e fui procurar a equipe médica oficial do rally. Fizeram um atendimento bem legal, me deram novas medicações, injeções para minha melhora. Mas essa foi a pior noite!

 – MOARA.

Quando o Rodolfo chegou todo torto, com aquela cara de dor e eu não sabia o que fazer por ele, pensei “vou levar ele pro hospital da cidade e deixar ele lá. Quando acabar o rally venho buscar”. O rally não para, eu estava em 4º lugar na categoria, ainda tinha dois dias importantes e eu não podia abandonar meu rally. Fui cuidar dos meus afazeres, preparar tudo pra etapa seguinte, depois quando o vi, ele parecia melhor e eu esqueci do plano. No meio da noite, acordei com calor, tinha acabado a gasolina do gerador e por isso o ar condicionado desligou. Em Sobral-CE faz um calor sem igual. Desci do motorhome para abastecer o gerador e vi que o Rodolfo estava sentado no banco da caminhonete, com o motor e ar condicionado ligados, com cara de sofrimento. Mas eu tinha que dormir e eu não podia fazer nada por ele. Fui para a cama pensando “de manhã vou falar pro meu pai largar ele num hospital nessa cidade”. Claro que de manhã eu já tinha esquecido isso!

 – RODOLFO

Ainda com muita dor.

No acampamento havia muito barulho e calor, e muitas luzes das oficinas, eu não achava uma posição ideal para dormir, passei a noite praticamente toda acordado trocando de posição, sentado e em pé e lutando com a dor que não melhorava. Antes disso acontecer eu já estava procurando um jeito de ir embora do rally antes do seu final, eu queria pegar um voo para SP mas não tive sucesso. Minha melhora se iniciou já na 7ª etapa em Cruz(CE), quando um outro chefe de equipe me viu travado e pediu para que o fisioterapeuta da equipe dele pudesse me atender. Ufa, após esse atendimento, muitos comprimidos, duas injeções e 3 dias dentro do motorhome eu consegui no dia seguinte conviver com as situações do dia-a-dia do rally. A chegada do rally foi em trecho de dunas, assistimos a chegada emocionante da Moara, que mais uma vez se mostrou uma pessoa muito resiliente, forte e focada, ela conquistou a 3ª colocação na categoria

 – MOARA

Viu só? Deu tudo certo! Eu sabia que daria, confio neles! Todos estavam na chegada comigo para comemorar meu 3º lugar!



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