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Uma viagem de moto que fugiu dos planos

 

Viajar de moto pela América certamente é um sonho para muitos, sonho esse em que os catarinenses Claudinei Batista e Rodolfo de Medeiros estão vivendo, mas nem tudo são flores, em meio a uma viagem por 14 países nas Américas, os amigos encontraram muitas dificuldades na passagem pelo Equador, que se encontrava em um momento político tenso no país. A travessia pelo território que deveria durar três dias, acabou se estendendo por sete, enfrentando muitas dificuldades de logística por conta de todos os protestos.

A primeira parada foi a cidade de Nueva Loja, onde já começava o “caos”. Depois de ficarem “presos” em um ponto da fronteira, conseguiram chegar a cidade só de madrugada, por um caminho alternativo guiados por um morador da região.

Foram dois dias tentando seguir viagem, mas havia barreiras em todos os acessos. “Perdemos uma manhã inteira e, indo e voltando, andamos 80 quilômetros à toa”, explica Claudinei. Uma das tentativas de sair da cidade foi de madrugada, e foi onde encontraram o primeiro grupo armado. Depois de perceberem que eram brasileiros, ficaram mais calmos, mas ainda assim pediram propina e só deixaram passar depois que pagaram, cerca de R$20,00.

Logo depois, encontraram outra barreira que impossibilitava continuar, e a única opção foi voltar para o hotel, em Nueva Loja. Já no quarto dia, foram avisados de uma trilha aberta até uma cidade vizinha, mas isso envolvia duas pontes bloqueadas e a única forma de passar era através de pequenas canoas.

 

 

“Nossas roupas são pesadas, e ainda tinha o peso das motos também. E o rio era muito fundo. Se a canoa virasse não ia ter jeito”. Conta Claudinei, que para ele, foi um dos momentos mais tensos de toda a viagem.

A partir daí, passaram por muitos vilarejos pequenos onde a população indígena era muito pobre. “Era um pessoal muito carente, uma pobreza fora do comum, e as famílias criavam barreiras. Botavam árvore atravessada e faziam um caminho e cobravam pedágio. Botavam filhos, mulher, família toda com lança na beira da estrada. Se não pagava não passava. Imagina em um quilômetro ter 10 casas, então tinha dez barreiras, com dez pedágios. Às vezes de uma barreira na outra não dava nem cem metros”, lembra.

 

 

Apesar de tudo, nesse dia Claudinei e Rodolfo conseguiram rodar 250 quilômetros entre Joya de los Sachas e Puerto Napo. Outra barreira foi encontrada, mas dessa vez não deixavam passar ninguém por hipótese alguma. “Era no meio do nada, não tinha estrutura nenhuma, então ficamos dois dias praticamente sem comer. Não conseguíamos ir nem voltar. Sorte foi que tinha uma barraca, uma cabaninha que um morador já tinha aligado para outro cara que também estava preso ali. Dividimos em três e passamos a noite ali mesmo”, conta.

No dia seguinte os manifestantes liberaram a passagem por 30 minutos, o que foi suficiente para os brasileiros continuarem sua viagem. Pelo caminho encontraram novos bloqueios e muitas famílias indígenas cobrando seus pedágios, para piorar, tinha muitas pedras. “Tinha pedras demais. Tanto que eu acabei cortando o pneu da moto. Tinha um kit de reparo, mas o corte era meio grande e consumiu todos os reparos que eu tinha”, relata Claudinei. “E pneu novo, só em Quito, onde já estava um caos”. A viagem continuou mesmo assim. “Mas a cada 10 quilômetros o reparo saltava, tinha que parar e arrumar de novo”, complementa.

 

Chegando a Tumbaco, na periferia de Quito, a situação se agravou. “Tinha exército na rua, arrastão, as lojas todas fechadas. Parei numa ruazinha e uma senhora disse que iam roubar e quebrar as motos. Mas não tinha mais como andar com o pneu vazio. Foi um pesadelo. Era um cenário de guerra”, explica.

Especialmente nesse dia, o governo decretou um toque de recolher às 15 horas, e a dupla de amigos já tinham chego em um hotel. Claudinei conseguiu buscar um novo pneu graças a seus contatos com motoclubes, que pela internet conseguiu se comunicar com um motociclista em Quito.

Após passar um dia inteiro ainda no hotel, pela noite acompanharam pela TV o anúncio de que o presidente havia cedido às reinvindicações e revogado o decreto sobre o aumento dos combustíveis, o que garantia o fim dos protestos. “Então na segunda-feira, às 6 horas da manhã, saímos do hotel e atravessamos o país diretaço, sem parar para nada, com medo que o caos voltasse”, conta Claudinei.

Apesar de todos os medos e imprevistos envolvendo dinheiro e tempo, a dupla ainda vai passar por Bolívia, Chile e Argentina, até chegar em Imbituba-SC.

“Acho que um dia voltaremos para lá. O país é bonito”, Diz Claudinei sobre o Equador, que lamenta que o local foi o único onde não conseguiram fazer turismo.

 

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