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INTERLAGOS – UM AUTODROMO BALADEIRO

Antes de entrar de cabeça nesse assunto, vale trazer um breve histórico do que vem acontecendo com os autódromos do País para depois fazermos uma análise mais precisa.

Salve, salve leitor da “COLUNA GALERA SHOW!”, vamos embarcar mais uma vez num grande dilema do esporte a motor do Brasil?

Não é novidade para ninguém que grandes praças esportivas estão se transformando em grandes arenas. No caso do futebol temos visto isso no Allianz Park (estádio do Palmeiras), no MorumBIS (Estádio do São Paulo), na Fonte Nova na Bahia, no Maracanã no Rio de Janeiro, no Mané Garrincha em Brasília e por aí vai.

Essa mesma “mudança de finalidade” vem acontecendo na principal praça do esporte a motor brasileiro que é o Autódromo de Interlagos em São Paulo. 

Porém, antes de entrar de cabeça nesse assunto, vale trazer um breve histórico do que vem acontecendo com os autódromos do País para depois fazermos uma análise mais precisa do que isso vem gerando nos bastidores do esporte a motor.

Já a algum tempo temos vivido tempos de mudanças no cenário dos autódromos do Brasil. Primeiro perdemos Jacarépagua, que inicialmente foi amputado para os jogos Panamericanos de 2007 e depois desapareceu completamente com a utilização da sua área para a criação dos espaços que atenderam os Jogos Olímpicos de 2014. Houve uma promessa de criação de outro autódromo no Rio onde muitos se empolgaram e acreditaram, mas para mim parecia claro que jamais sairia da promessa e chegaria de fato a se concretizar.

Tivemos a paralização do uso de Brasília e ao que parece talvez retorne ao cenário das competições em 2025, mas já vimos algumas promessas não cumpridas em relação a essa pista, então prefiro aguardar um pouco mais para aumentar a minha expectativa de voltar a essa que para mim é uma das melhores praças do Brasil.

Depois perdemos o Autódromo Internacional de Curitiba para a especulação imobiliária, vale lembrar que antes mesmo do encerramento das atividades do autódromo de Pinhais, já ocorriam uma série de restrições quanto ao início e encerramento das atividades com motores ligados no autódromo por conta de barulho, até que veio a primeira pancada das retroescavadeiras determinando o fim definitivo de mais essa praça.

Temos outras praças com problemas como Santa Cruz do Sul e espero que se resolva o mais rápido possível e retorne ao cenário nacional (não me parece ser o caso). 

Ainda existem outros autódromos em completo ou parcial abandono, como é o caso de Caruaru. Outros com suas condições bem prejudicadas por questões de asfalto, box, áreas de escape ou áreas comuns, ou ainda, defasados pelo tempo e que hoje precisam urgente passar por reformas em suas estruturas para voltar a oferecer alguma comodidade aos seus usuários, como é o caso de Campo Grande, Londrina, Tarumã, Guaporé (esse parece que algo já está sendo feito).

Também é verdade que algumas praças surgiram nesse meio do caminho, casos de Curvelo e Lima Duarte (Autódromo Potenza), coincidentemente duas praças em Minas Gerais, mas que também, na minha modesta opinião, precisam melhorar suas condições de estrutura de hospedagem, hospitais e restaurantes.

E por fim, ainda temos outras promessas que estão começando a sair do papel, é o caso de Chapecó e Cuiabá, mas… melhor esperar o avançar das obras para iniciar o sonho de estar por lá. Inclusive, lembro de ter pedido numa mensagem ao PODCAST PAPO COM MAMUTE em 2023, durante a entrevista com o engenheiro responsável pelo projeto da pista de Chapecó que eu fazia questão de narrar a primeira corrida por lá (rsrsrs).

Ok Alê, e agora onde vamos chegar?

Desde o final da década passada, antes mesmo de imaginarmos passar por uma pandemia, o autódromo de Interlagos passou a receber grandes públicos em atividades que não eram propriamente corridas de carros ou motocicletas. Se lembrarmos um pouco mais longe, algumas missas do Padre Marcelo Rossi com grande número de fiéis aconteceram por ali nos anos 2000, dando indícios do que poderia vir a seguir, depois alguns shows menos badalados também começaram vez ou outra a ocupar as curvas de Interlagos até chegarmos no que temos hoje.

 É inegável que a enorme área ocupada, e sua topografia, o fato de estar na maior cidade do País torne Interlagos um paraíso para os organizadores de grandes shows. É inegável também que as receitas diretas e indiretas geradas por esses grandes festivais sejam interessantes para o Município e consequentemente, para o Autódromo. Não é preciso levantar números, para se imaginar que nenhum evento de esporte a motor arrecada igual. Também não podemos esquecer da grande geração de empregos e movimentação da roda econômica da região com a chegada de turistas. Chega a ser injusto e cruel querer fazer qualquer comparação com os eventos esportivos que também geram receitas, mas, em volumes infinitamente menores.

Com isso temos no calendário do autódromo 2 megas festivais (Lollapalooza e o The Town) por hora, isso já toma algumas datas do calendário. Cabe aqui mais uma ressalva, o tempo que o autódromo fica sem utilização por conta da preparação para o GP de Fórmula 1.

E como ficam as atividades esportivas nacionais? 

Sendo bem direto e pouco preciso (pois é apenas a maneira que vejo a distribuição das áreas, estando lá pelo menos 15 finais de semana no ano), vejo o autódromo administrando suas atividades com o “fracionamento” de suas áreas. Para mim ficam claras as divisões de espaços, tais como, o Kartódromo visto como uma das frações, a pista de arrancada (antiga reta oposta) como outra fração, o Autódromo com suas áreas de box como outra fração e, por fim, a área de estacionamento interna como outra fração. Dessa forma será mais comum do que parece que tenhamos simultaneamente 4 eventos num mesmo final de semana em Interlagos. 

Onde estão as dificuldades disso tudo? 

Evidente que vai se tornar ainda mais comum que muitas vezes os veículos dos pilotos, das equipes, do staff e do público serão deslocados para outras áreas de estacionamento, muito mais longe e com alguma dificuldade de acesso, em outras terão de conviver com os sons de ensaios, em outros momentos com a redução de visibilidade (para quem está assistindo) de algumas áreas da pista por conta de estruturas montadas. Confesso que não lembro outro autódromo que tenha virado arena multiuso. Se alguém lembrar me mandem um comentário dizendo o nome ou a localização. 

Acham que acabou? 

Não acabou, agora é que começam as grandes dificuldades.

Paralelamente a toda essa transformação de Interlagos ainda temos um fato importante de transformação do esporte a motor do Brasil. Desde as mudanças das leis no início dos anos 2000 que deliberam sobre a criação e legitimação das Ligas Esportivas, muitos campeonatos surgiram, centenas de novas categorias vieram, tanto no esporte sobre 4 rodas quanto no esporte sobre 2 rodas e com isso a necessidade de utilização das praças. Mas lembra aquilo que trago no início da coluna em relação aos autódromos no Brasil?

Pois é, temos um sério problema de equação. Menos autódromos a disposição, seja por fechamento ou por problemas estruturais, mais shows em Interlagos e mais categorias e ligas. A conta não fecha e não vai fechar tão cedo.

Portanto queridos leitores, aproveitem cada centímetro de pista quando estiver nela, se você estiver lá, você é sem dúvida nenhuma um privilegiado.

Espero que tenham gostado e quero muito encontrá-los em breve por aqui. Estou sempre pronto para receber o seu feedback sobre os conteúdos e também trazendo suas sugestões de novos temas através do meu Instagram @ale.eiras.narrador . 

Forte abraço GALERA SHOWWW!

Fotos aéreas: Light Z

Fotos: JCapreti



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