“Pilotos bastante rápidos e bem ousados, que pecavam no condicionamento físico, com péssimos hábitos alimentares, com situações emocionais que sequer sabiam que tinham e que a partir do momento que viram o esporte de forma mais ativa e séria passaram a cuidar e se empenhar na busca pela melhoria.“
Salve, salve amigos da COLUNA GALERA SHOW!
Vamos conversar e refletir um pouco sobre as categorias de acesso ao mundo das competições.
Em edições passadas falávamos sobre o atual momento do motovelocidade brasileiro, onde dois caminhos eram certos para o ingresso de novos pilotos no mundo das competições. O primeiro deles, envolvendo os jovens pilotos, nesse caso, desde criança o piloto é “lapidado” pelos tutores e conhecem bem cedo os desafios das pistas e ganham “bagagens” que servirão como suporte para a construção de suas carreiras. O trabalho feito a mais de uma década na Honda Jr. Cup dentro do Superbike Brasil, onde tem o resultado já aparece em todas as categorias nacionais e foi o início de tudo para outros pilotos que buscam seu espaço internacional. Para aumentar esse leque, nesse ano, mais um projeto chega para abrir as portas para esses jovens através da Categoria R15 dentro do Moto 1000GP. Essas são as portas que, para mim, não deixam dúvidas que servirão como grandes “berçários” de futuros talentos do esporte.
Mas, nosso alvo para essa edição são as categorias que abrem portas para pilotos que chegam mais tardiamente ao mundo das competições.
As categorias “Escola ou Rookie” são categorias voltadas para pilotos (normalmente com mais de 25 anos de idade em média, mesmo as categorias não tendo faixa de corte) e que nunca competiram ter a oportunidade de iniciar no esporte. Em sua imensa maioria, são motociclistas que são oriundos dos “rolês” nas estradas com suas potentes motocicletas, ou ainda, que participam de “track days” e resolvem vivenciar as disputas nos autódromos.
São categorias que usam como base de corte para participação na categoria o tempo de volta, tendo como padrão no Superbike Brasil (por exemplo) os tempos obtidos em Interlagos como referência.
Pilotos que, mesmo já andando de moto a muito tempo, não tiveram nenhuma base de pilotagem esportiva. Pessoas que aceleram motos de maior cilindrada e que desejam iniciar no esporte sem necessariamente precisar diminuir de cilindrada em busca de uma melhor adaptação ao mundo das corridas.
Homens e mulheres que amam o esporte e que fora delas ocupam carreiras profissionais que na maioria das vezes não têm nada a ver com o mundo das duas rodas.
Para esses pilotos, incialmente as competições são grandes desafios pessoais, mas que, pelas atribulações da vida o esporte serve como um Hobby e ocupam uma outra “prateleira de prioridades”.
Lembro do surgimento da Categoria Escola no Superbike Brasil no final de 2016. Naquele momento confesso que não entendia direito qual era o objetivo daquela categoria e nem o que ela agregaria ao evento ou ao esporte.
Eu narrava a corrida e via claramente pilotos sem uma trajetória padrão, cada volta vinham numa linha diferente, completamente diferente daquilo que acompanho normalmente em outras categorias e pensava… “meu Deus!”.
Porém, bastou uma temporada inteira para eu entender que tudo tinha atingido muito mais do que se imaginava inicialmente.
A chegada da categoria, inicialmente somente para motos 600 e 1000 cc tinha como cunho inicial abrir a possibilidade para que os pilotos dos track days e/ou vindo das estradas pudessem iniciar no mundo das competições sem precisar competir com pilotos mais experientes. Isso por sí só já dava para a categoria uma condição de igualdade (ou o mais próximo disso) para esses competidores e dando a eles o tempo de “maturação” em pista suficiente para nos anos seguintes subirem para outras categorias como a Light e posteriormente a EVO, obviamente respeitando o processo de evolução através das atitudes na pista e nos tempos de volta.
Onde eu digo que foi além disso?
Naquele momento sabia-se que a diferença de tempo entre um piloto da categoria Pró para um piloto recém-chegado dos “track days” ou das ruas seria em torno de 15 a 25 segundos de diferença por volta, o que convenhamos, é uma diferença absurda. Essa diferença no aspecto da segurança representa um risco enorme tanto para o piloto novato quanto para o piloto mais rápido principalmente se falarmos de motos de 1000cc.
O que não se imaginava, naquele momento, era o quanto a criação das categorias de acesso poderia mudar a mente e a vida desses pilotos.
Por ter o privilégio de conviver com os pilotos e de conversar com eles ao longo das etapas, fui percebendo uma série de mudanças entre uma etapa e outra. Pilotos bastante rápidos e bem ousados, que pecavam no condicionamento físico, com péssimos hábitos alimentares, com situações emocionais que sequer sabiam que tinham e que a partir do momento que viram o esporte de forma mais ativa e séria, passaram a cuidar e se empenhar na busca de melhorar sua performance e quando viram já estavam numa nova rotina de vida.
Em relação aos equipamentos, perceberam que para se andar rápido era preciso também cuidar melhor dos equipamentos e se equipar com macacões, luvas, botas, capacetes de uma qualidade maior.
Percebi em muitos uma mentalidade diferente, aquilo que era apenas uma diversão passou a ser tratado de forma mais séria e os aspectos visuais nos equipamentos passaram a ser olhado de forma mais intensa na busca de parceiros que pudessem agregar e facilitar no aspecto econômico a participação no campeonato.
Poucos sabem, mas os números comprovam. Pilotos novatos conseguem em média uma melhoria de 9 a 15 segundos nos tempos de volta entre a primeira e a última etapa no final de uma temporada (base de referência, os tempos em Interlagos). Algo que representa uma evolução absurda e que será levada para sempre em suas pilotagens, seja numa nova categoria ou mesmo quando o piloto decidir deixar os autódromos.
Essas categorias exigem cuidados que aqueles que olham de fora talvez não saibam. São pilotos que não tem a vivência das competições e descobrem que para se competir é preciso estar ciente de regulamentos, sinalizações, entendimento do funcionamento dos equipamentos e aprender a decifrar aquilo que a moto está dizendo. Evidente que, nesse último quesito, estar numa numa grande equipe facilita muito a adaptação.
Ainda nesse aspecto, os briefings após cada sessão de pista foi instalado com “pilotos tutores”, pilotos com grande história dentro do esporte colocando à disposição dos novatos suas experiências e os orientando no sentido de evolução e prevenção de riscos.
Muito já ouvi de pilotos que se soubessem o quão mais seguro são os autódromos já teriam saído das ruas a muito tempo.
Aos organizadores das competições, olhar com carinho para esse “nicho de mercado” é bastante interessante. São pilotos, são clientes, são pessoas com potencial para agregar e encorpar as competições, sejam elas de nível nacional ou regional. Porém entender as necessidades e os fatores de risco fazem toda a diferença.
Onde então Ale o motovelocidade nacional apresenta dois caminhos a que você se refere no início da matéria?
Os meninos oriundos das categorias de base sempre deverão ser tratados como “Prós”, eles sempre estarão a frente no sentido de vivência e de objetivos dentro do esporte. Já os pilotos mais velhos oriundos dos “tracks” e das ruas sempre terão uma vivência e um olhar diferente, por mais competitivos que sejam, eles nunca terão as mesmas condições e objetivos no mundo das competições.
Vamos chegando ao fim de mais uma edição, caso queira sugerir algum tema ou queira conhecer um pouco mais sobre esse que vos escreve mensalmente, vai lá no Instagram @ale.eiras.narrador .
No mais, não esqueça de clicar na logo da 2MT Motorsport para conhecer os produtos e as novidades que por lá não param nunca.
E para terminar daquela forma que vocês já conhecem.
Forte abraço GALERA SHOWWWWW!!!
Imagens do acervo pessoal dos pilotos Felipe Bittencourt “Doc” #13 e Vanderlei Pinho #8 que generosamente contribuíram com a ilustração da matéria. Obrigado pilotos!!!