A 75º edição do Mundial de MotoGP também sofreu profundas alterações no regulamento, com a introdução das corridas Sprint, somente para a MotoGP, mais curtas no sábado. No domingo, a corrida principal, mais longa, mantém o formato original de Grande Prêmio.
Na prática, serão nada menos que 42 corridas na temporada em uma maratona ao redor do mundo, por 19 países. (a Espanha tem 10 pilotos e três GPs). Para acomodar os treinos de classificação e as disputas Sprint, os horários e duração dos treinos e das corridas das classes Moto3 e Moto2 foram alterados, privilegiando a MotoGP.
As disputas de sábado no formato Sprint, mais curtas, também terão pontuação reduzida e só até a nona colocação, além de estatísticas separadas. O vencedor da Sprint marca 12 pontos, contra 25 da MotoGP. O segundo, nove pontos, contra 20 da MotoGP, o terceiro, sete pontos contra 16 da MotoGP. Daí em diante, a Sprint diminui um ponto até a nona colocação. A MotoGP distribui 13 pontos para o quarto, 11 pontos para o quinto e a partir daí reduz um ponto até o 15º colocado.
Calendário das provas
Com a introdução das provas Sprint, a programação oficial inclui o sábado nos fins de semana de MotoGP em 2023
- 1º – Portugal, circuito de Portimão, 24 a 26 de março
- 2º – Argentina, circuito de Termas de Río Hondo, 31 de março a 2 de abril
- 3º – Estados Unidos, circuito das Américas, 14 a 16 de abril
- 4º – Espanha-Jerez, circuito de Jerez, de 28 a 30 de abril
- 5º – França, circuito de Le Mans, de 12 a 14 de maio
- 6º – Itália, circuito de Mugello, de 9 a 11 de junho
- 7º – Alemanha, circuito de Sachsenring, de 16 a 18 de junho
- 8º – Holanda, circuito de Assen, de 23 a 25 de junho
- 9º – Cazaquistão (inédito), circuito de Sokol de 7 a 9 de julho
- 10º – Grâ Bretanha, circuito de Silverstone, de 04 a 06 de agosto
- 11º – Áustria, circuito de Red Bull Ring de 18 a 20 de agosto
- 12º – Espanha-Catalunha, circuito de Barcelona, de 1 a 3 de setembro
- 13º – San Marino, circuito de Misano, de 8 a 10 de setembro
- 14º – Índia (inédito), circuito de Buddh, de 22 a 24 de setembro
- 15º – Japão, circuito de Motegi, de 29 de setembro a 1 de outubro
- 16º – Indonésia, circuito de Mandalika, de 13 a 15 de outubro
- 17º – Austrália, circuito de Phillip Island, de 20 a 22 de outubro
- 18º – Tailândia, circuito de Chang, de 27 a 29 de outubro
- 19º – Malásia, circuito de Sepang, de 10 a 12 de novembro
- 20º – Catar, circuito de Losail, de 17 a 19 de novembro
- 21º – Espanha-Valência, circuito de Valência, de 24 a 26 de novembro
As motos que correm no Mundial de MotoGP
Os modelos da MotoGP são protótipos especialmente construídos, em que cada parafuso foi desenvolvido para apresentar performance e velocidade. Também funcionam como laboratório para novas tecnologias, repassadas aos modelos de rua. A partir de 2002, iniciou-se a migração dos motores do tipo dois tempos de 500 cm³, até então usados para os do tipo quatro tempos.
Inicialmente, os dois tipos de motores conviveram nas competições. Dois tempos com 500cm³ e quatro tempos com 990cm³. Em 2003, todas as motos passaram a utilizar motores quatro tempos de 990cm³. Em 2007, a FIM altera os motores para 800cm³, e a partir de 2012 estabelece o formato 1.000cm³, quatro tempos, que prevalece até hoje.
O peso mínimo das motocicletas estabelecido pelo regulamento é de 157 quilos, sem contar o piloto. Os motores contam com arquitetura em V de quatro cilindros (Aprilia, Ducati, Honda, Gas Gas e KTM), ou em linha, com quatro cilindros, adotado pela Yamaha. Cada um com suas “problemáticas” e “solucionáticas”.
Equilíbrio
Os propulsores de quatro cilindros em linha proporcionam um conjunto com maior agilidade nas curvas, entretanto, perdem nas retas, com potência inferior. Nos circuitos mais travados, por exemplo, levam vantagem. Os motores em V desenvolvem maior potência, com velocidade superior nas retas, mas o conjunto é menos veloz nas curvas. Uma equação que também tem os ingredientes dos chassis, aerodinâmica, suspensões, pneus e também do piloto.
Como exemplo, o piloto francês Johann Zarco, a bordo de uma Ducati Desmosedici GP, com motor V4 inclinado a 90 graus, atingiu a velocidade de 362,4km/h durante os treinos para o GP do Catar de 2021 com uma reta de apenas 1.068 metros, batendo o recorde de maior velocidade alcançada na história da MotoGP.
Entretanto, quem venceu o campeonato de 2021 foi o piloto (também francês) Fabio Quartararo, com uma Yamaha equipada com motor de quatro cilindros em linha. Para complicar, o desenvolvimento dos motores foi congelado em temporadas passadas pela pandemia, mas liberado em parte para 2022 e 2023. Além disso, as equipes oficiais, de fábrica, tinham restrição de utilização da quantidade de motores e treinos ao longo do campeonato: sete motores para os times oficiais e nove motores para os times não oficiais.
Motor de dentista
A busca incessante entre velocidade e maneabilidade produz motores cada vez mais complexos e precisos. Para obter mais potência com o mesmo tamanho de motor é necessário aumentar as rotações. E com as rotações, os problemas. Os propulsores atingem cerca de 18.000rpm, exigindo movimento de abertura e fechamento de cada válvula de cerca de 150 vezes por segundo.
Desta forma, também é necessário um comando de válvulas especial, pneumático, capaz de acompanhar e suprir a velocidade, substituindo as molas ineficazes neste ritmo, prejudicando a alimentação e exaustão. Ou então, mecanicamente, pelo sistema desmodrômico (com hastes em vez de molas) da Ducati.
Temperatura
Com tantas rotações, a geração de atrito e calor exige lubrificação precisa e refrigeração com radiadores superdimensionados. Na construção, quase artesanal de todo o mecanismo, também são empregados componentes nobres, leves e dispendiosos, como titânio, magnésio, alumínio e fibra de carbono.
Para o motor alcançar rotações tão elevadas, o curso dos pistões é bem reduzido (cerca de 48mm) em relação ao diâmetro. Com isso, dentro do motor, atingem uma velocidade de cerca de 30 metros por segundo em uma distância menor que 5 centímetros em um ciclo que parte do zero toda vez, 18.000 vezes por minuto. Os gases gerados após a combustão, atingem cerca de 700 graus e são expelidos pelo escape a mais de 350km/h.
Eletrônica
A eletrônica empregada é sofisticadíssima. Porém, limitada, para tentar conter custos e equalizar a performance entre as motos. Padronizadas pelo único fornecedor Magneti Marelli, controlam, por exemplo, o anti-weelie (empinadas), o nível de tração, mapas de motor, quick-shift (troca de marchas sem desacelerar), freio motor, controle de largada, controle de velocidade na entrada nos boxes.
Porém, permitem, ajustes individuais conforme cada pista, além de regulagens na injeção de combustível, bobinas de ignição, bombas de combustível, por exemplo. Porém, cada sensor deve estar homologado previamente.
O painel digital pode receber informações e avisos passados dos boxes. A telemetria é permitida somente da moto para os boxes. A moto pode enviar dados, entretanto, os boxes não podem interferir no seu funcionamento. O GPS para coleta de dados também é vedado, mas, estuda-se a comunicação via rádio, entre piloto e equipe.
A IMU (Unidade de Medição Inercial) coleta dados de inclinação, aceleração, desaceleração, abertura do acelerador, rotações, velocidade e temperatura, informando à ECU, Eletronic Control Unit (Unidade de Controle Eletrônico, ou “centralina”), que processa e traduz para os parâmetros aceitos e exigidos pela padronização eletrônica. Estima-se que só a eletrônica custe 100 mil euros. Cerca de R$ 700 mil.
Aerodinâmica
O tanque pode ter no máximo 22 litros. As suspensões também são livres, porém, todas com garfo invertido na dianteira e mono na traseira, totalmente ajustáveis. Algumas marcas utilizam um dispositivo mecânico (a eletrônica neste sistema é vedada) que rebaixa a suspensão nas retas e especialmente na hora da largada, pois, a MotoGP acelera de zero a 100 km/h em míseros 2,5 segundos. De zero a 200km/h gasta 4,8 segundos e para atingir 300km/h saindo do zero, precisa de cerca de 10,6 segundos.
A carenagem tem um papel fundamental da aerodinâmica, com velocidades cada vez mais altas. Todas as marcas passaram a utilizar asas, apêndices fixos que funcionam como aerofólios para aumentar o downforce e prender a moto no chão. Entretanto, estas asas não podem ser móveis (o regulamento proíbe) e tem que ser homologadas. Mesmo se forem alteradas, para um circuito de alta velocidade, por exemplo.
Além disso, a carenagem tem uma tomada de ar no bico, um uma zona de maior pressão, que leva o ar para a admissão, funcionando como uma espécie de turbo em velocidades mais altas. Estima-se que o conjunto de cada moto, custe cerca de 3 milhões de euros, ou cerca de R$ 21 milhões.
Para pilotar estas jóias mecânicas é necessário ter idade mínima de 18 anos e para participar das competições obter um tempo igual ou inferior a 105% do melhor tempo estabelecido na classificação. Como curiosidade, duas duplas de irmãos estarão nas pistas. Os espanhóis Marc Marquez e Alex Marques e Pol e Aleix Espargaró da Espanha.
A lenda Valentino Rossi se aposentou e virou dono de equipe, a VR-46, que tem como piloto o irmão (por parte de mãe) Luca Marini. O piloto italiano oficial Yamaha, Franco Morbidelli, tem mãe pernambucana e corre com a bandeira brasileira no capacete.
Ducati
A italiana Ducati (hoje controlada pela Audi) foi a campeã entre os construtores e de pilotos em 2022, após 15 anos de espera. Em 2023, vai defender os títulos com um esquadrão de oito motos. O time oficial é composto pelo piloto campeão mundial italiano Francesco “Pecco” Bagnaia (que vai adotar o número 1) e pelo italiano Enea Bastianini, que veio da equipe satélite Ducati Gresini, que corria com modelo especificação 2021. A Ducati GP 23 mudou a tonalidade do vermelho e fez ajustes finos na parte técnica.
Com protótipos Ducati também está a equipe Pramac com os pilotos Jorge Martin da Espanha e Johann Zarco da França. É a única satélite Ducati com a GP 23 atualizada de fábrica. Também com Ducati, mas com a GP 22 do ano passado, a equipe Gresini tem os pilotos Alex Marquez da Espanha (que veio da Honda LCR) e Fábio Giannantonio da Itália. A equipe Gresini de Faenza é comandada por Nádia Padovani, viúva de Fausto Gresini.
Completando a esquadra Ducati com oito integrantes, a equipe VR46 com os pilotos Luca Marini e Marco Bezzecchi, em um esquema totalmente italiano. As equipes recebem assistência de fábrica, com a GP 22, porém, com desenvolvimentos levemente defasados.
O motor tem quatro cilindros em V a 90 graus, duplo comando de válvulas no cabeçote, quatro válvulas por cilindro. Estima-se que seja o mais potente do grid com cerca de 270cv. O escape é Akrapovic, as rodas em magnésio Marchesini, quadro em feixe duplo em alumínio. As suspensões são Ohlins e os freios Brembo.
Yamaha
A japonesa Yamaha venceu o mundial de pilotos em 2021, com o francês Fabio Quartararo, ao lado do ítalo-brasileiro Franco Morbidelli, que foi campeão da Moto2 e vice-campeão da MotoGP em 2020. A Yamaha vai ser a única fábrica a não ter uma equipe satélite e também a única a utilizar o motor de quatro cilindros em linha, após a retirada da Suzuki em 2022.
A YZR-M1 2023 ganhou um novo motor mais potente e com maior velocidade final, uma das deficiências em 2022, junto com nova aerodinâmica e ajustes no quadro. O motor tem quatro cilindros em linha, com virabrequim de plano cruzado (mesma tecnologia utilizada da superesportiva de rua YZF-R1), crossplane. As suspensões são Ohlins, os freios Brembo com duplo disco de fibra de carbono na dianteira e aço na traseira. O quadro é em dupla viga em alumínio (Deltabox), as rodas em magnésio forjado. Estima-se que a potência seja de cerca de 260cv.
Honda
A Honda (Repsol) mudou tudo para a temporada 2023. Quadro com dupla trave em alumínio, aerodinâmica, com nova tomada de ar no bico da carenagem, novas asas e eletrônica, onde é permitido. Em 2022, a Honda foi a última colocada entre os construtores, motivo atribuído à dependência do piloto espanhol Marc Marquez em recuperação de uma série de lesões e cirurgias.
O modelo RC 213V 2023 de quatro cilindros em V e mais de 160cv também vai ser pilotado pelo espanhol Joan Mir, campeão mundial pela Suzuki em 2020. Para avançar, o HRC, Honda Racing Corporation, departamento de competições da marca japonesa, encomendou estudos de novo quadro e balança à alemã Kalex, tradicional fornecedora. Mudou também o escape que era SC para Akrapovic.
O time satélite LCR, também utiliza motos Honda, com os pilotos Takaaki Nakagami do Japão e com o espanhol Alex Rins que competia com a marca Suzuki até 2022, antes da sua retirada da competição.
Aprilia
A Aprilia, fundada em 1945, em Noale, Norte da Itália, e controlada pelo Grupo Piaggio desde 2004, tem um longo histórico nas competições, especialmente nas categorias de acesso com 38 títulos mundiais. Até 2021 estava vinculada à equipe Gresini e, em 2022, passa a ser equipe de fábrica.
O modelo RS-GP 2023 será pilotado pelos espanhóis Aleix Espargaró e Maverick Vinales. Também vai ter o time satélite RNF pilotado por Miguel Oliveira de Portugal e Raul Fernandez da Espanha.
A moto tem motor de quatro cilindros em V, com inclinação de 75 graus, DOHC com acionamento de válvulas pneumático. Estima-se uma potência de cerca de 260cv. O escape é SC, o quadro em dupla trave em alumínio regulável, as suspensões Ohlins com balança em fibra de carbono e os freios Brembo.
KTM e Gas Gas
A austríaca KTM entra em 2023 no terceiro ano como time oficial de fábrica. Os pilotos são o australiano Jack Miller e o Sul Africano Brad Binder. O protótipo RC-16 2023 tem motor de quatro cilindros em V, com potência estimada em cerca de 265cv. Um dos mais fortes da competição. É a única a utilizar um chassis de aço, ao contrário de todas as outras marcas, que usam alumínio e fibra de carbono.
Porém, a balança da suspensão traseira é em fibra de carbono. As suspensões são WP (White Power, da própria KTM), o escape Akrapovic e os freios dianteiros com duplo disco em fibra de carbono e pinças Brembo. O modelo Gas Gas é praticamente uma KTM com outras cores e faz parte do mesmo Grupo Pierer. Os pilotos são os espanhóis Pol Espargaró e o estreante Augusto Fernandez.